sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Nós, as 4.

 
Existem 4 mulheres dentro de mim.
A mulher que habita um corpo. Forte, vigoroso, feito para aguentar maremotos, tufões e rajadas de vento. Um corpo atlético e flexível que precisa de movimento para se sentir vivo.
Essa é uma mulher sensual, com uma presença física, marcada, com uma beleza natural.
Essa mulher é terra.
Terra com cheiro de chuva.

Ela anda escondida dentro de mim. Sem energia, sem vigor. Diria até: abafada.


Há a mulher cabeça. Pipa, avoada. Que vive no terreno do pensamento. Se alimenta da imaginação. Essa é a que domina minha vida desde sempre. Nasci sendo só ela. Desenvolvi as outras ao longo da vida, por pura necessidade.
Minha cabeça não para, nem quando estou dormindo. Sou assim desde criança. As vezes a noite exercitava meus sonhos, só pra não perder o fio de alguma história que me alimentava.
O pensamento me alinha, me bota no prumo, me liberta. É nele que me identifico, que me sinto eu.
Essa mulher é etérea, habita no corpo por imposição planetária.
Poderia pairar apenas. Sua existência precede o corpo.
Essa mulher é ar. Pode ser brisa, vento ou tufão.

Há aquela que nasceu de uma identidade. De precisar ocupar um lugar no mundo. A mulher que faz, que se relaciona. A pessoa capaz de criar vínculos e de fazer dessa uma habilidade tão poderosa, que a sustenta.
Essa é uma mulher que sabe costurar emoções e que habita  nesse território do que a gente vira depois que cresce!
Aquela que a gente diz  ser no mundo. Eu sou a psicóloga. A médica de segredos. A que habita de carona na emoção alheia. Eu sou co piloto do processo de vida dos outros.
Meus pacientes: Pessoas com coragem suficiente para mergulharem sem seguro, nem paraquedas nessa aventura que é desvendar-se a si mesmo!
Essa mulher é água. E ela sempre encontra o caminho pro mar!



Há ainda uma delas que nasceu faz pouco tempo. É a mais jovem de todas!
Guerreira, feroz e por vezes um excesso. Excesso de tudo: amor, apego, proteção, orgulho.
De todas é a mais desmedida. A que sem dúvida não encontrou o tom, a medida.
Ainda não sabe ser no mundo, e talvez jamais saberá. Sofre se presa e piora se liberta.
Nasceu paradoxal e essa é sua verdadeira natureza.
Essa mulher é fogo. Um fogo que aquece mas pode queimar. Um elemento masculino, numa função feminina. Um hibrido de criador e criatura, dançando numa mesma figura. : essa mulher é mãe.

Meu desafio do ano é juntar as quatro numa mesma pessoa. Deixar a pipa voar, criar, testar o universo das artes, ter novos desafios, mas que ela habite num corpo com tônus, forte e flexível para transitar nas quatro linhas com desenvoltura e elegância.
Preciso ser mãe: estar presente, educar, amar e acolher. Participar. Quero ver de perto meus filhos crescerem fortes e aptos para felicidade.
Quero continuar psicóloga e estar junto  daqueles que me deixam entrar num terreno tão valioso quanto seu  universo interno.
Quero enfim, juntar os 4 elementos e me sentir uma só!

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Insônia criativa


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Quase 3 da madruga e eu aqui na frente do computador, digerindo meus dias...
Insônia é sinonimo de assuntos inacabados que rondam, mente a fora e me tiram o sono. Agora me explica, como convencer corpo e alma de que a madrugada não foi feita para resolução de problemas.
Nada, absolutamente nada, mudará até as 9 horas da manhã, ou seja, daqui a 6 horas.
Uma voz dentro de mim grita: Vai dormir minha filha!
Não consigo! tenho que arrumar dinheiro para fechar o ano, preciso acabar meu tratamento dentário, antes que vire uma banguela! Está acabando o ano e seria bom passar o reveillon com uma roupa branca sem parecer a Mobie dick, preciso arranjar uma mágica qualquer para ser 4 em uma: mulher, mãe, psicóloga, e ter um corpo compativel com meu desejo.  Tá difícil! Jogar energia nas 4 linhas é basicamente impossivel. Tem sempre alguma área que fica a ver navios. Ser boa mãe foi projeto e escolha. Ser psicóloga clinica também. Sobra um pouquinho pra jogar na relação e no corpo. Ah, coitado do corpo! Ele será a bola da vez. Guenta fio!
Como eu vou colocar minha cabeça no travesseiro agora e puxar um soninho, se o mundo parece que não para de bater na minha porta, como se fosse acabar amanha!
Ter 40 anos é definitivamente uma via de mão única para a vida adulta. Se nos 20 eu sentia que o mundo se abria em possibilidades e isso não era necessariamente bom, pois sou uma pessoa atormentada por pensamentos, dúvidas e suposições desde que nasci, então não estou defendendo aqui, a leveza dos 20, contra a maturidade dos 40, pelo contrário. Acho até, que aos 20 eu era mais neurótica do que sou agora rsrs. 
Hoje aprendi a rir de mim mesma. Até os 30 e poucos anos eu me levava muito a sério. Relaxei quando aprendi a rir das minhas próprias contradições.
Acredito que isso veio com a clínica. Lidar com os mais variados tipos de personalidades, anseios e frustrações e ver emergir dali:  amor, coragem para romper padrões, e uma cumplicidade empática capaz de momentos de pura magia, me elevaram como ser humano.
Sou grata, extremamente grata, as pessoas que entram no meu consultório com a coragem de abraçar um processo que é tanto doloroso quanto libertador, e me convidam para embarcar nessa aventura que é perceber e se apropriar de quem se realmente é.
Parece fácil, e até obvio, mas não é .
E lá se vai mais meia hora, com meus devaneios madrugada a dentro....

sábado, 28 de julho de 2012

Aquilo que nos define

Sempre acreditei na força e no poder de recuperação, pois quando fui testada, ainda muito nova, foi esse o suporte que tive para não sucumbir.

Aos 16 anos eu perdi abruptamente meu pilar. Eu tive raiva de Deus, de mim e do mundo.

Transformei a raiva em acertividade, em suporte. Só de raiva eu fui feliz. Só de raiva não virei uma adicta, pois não suportaria a idéia de ser dependente de ninguém e de nada.

Eu, que era tímida e mais interessada no universo interno, me rebelei, liguei o foda-se, desci ao Hades e negociei alguns passes com o Diabo. Na época não me dei conta de que quase que constantemente colocava minha vida em risco, afinal nada me interessava muito e eu criara uma casca tão grossa, que pra sentir alguma coisa tinha que ser muito intenso.

Perdi a suavidade, a inocência e a fé ao mesmo tempo. Me enfiei em relações, intensas, abertas e as vezes destrutivas.

Acredito que me tornei terapeuta por isso. Vi e vivi meus demônios com a coragem de um suicida. O que me trouxe de volta para o mundo dos vivos foi meu processo terapêutico.

Por longos anos isso me definiu como pessoa: a crença de que não precisava de nada, nem de ninguém para ser feliz. A fé inabalável no poder humano de ressuscitar das cinzas! Com isso me sentia inteira, livre, e capaz. Era uma existencialista nata.

Até que um dia, a bússola quebrou e o mundo como o concebia, perdeu o sentido.

Eu não cabia mais nesse lugar, um buraco gigantesco foi aberto no meu escudo. Ele tinha nome, rosto, tudo. Chamava-se Manuela, e tinha acabado de nascer. Minha auto suficiência foi pro brejo e levou com ela minha forma de estar no mundo. Precisei me reinventar e aceitar esse amor incondicional ditando novas regras. Não foi fácil nem rápido, mas inevitável.

Ontem conversando com uma paciente querida revisitei este momento. Quando a gente se depara com nossa última fronteira. E vemos que não cabemos mais naquilo nos definia, que de repente o lugar de onde olhávamos o mundo, simplesmente mudou e somos arremessados para um território novo, sem bússola ou proteção.

Essa é a hora de sermos criativos e ampliar nosso repertório emocional e vivencial.

Quando o mundo da forma que o vemos passa a não fazer mais sentido, é hora de mudar de lente. Demora um pouco mais um dia, olhando pra traz, podemos ver que aquilo que a princípio parecia ser uma ameaça era na verdade um presente.

terça-feira, 17 de abril de 2012

Com a palavra Carochinha. Minha irmã


O post dela vale ser lido. é uma ilustração viva do que quis passar no texto Irmãos. Ai vai:
Que surpresa maravilhosa abrir meu e-mail hoje de manhã e dar de cara com esse lindo post!Fiquei emocionada de ver a foto das mãozinhas dos meus sobrinhos,como eu amo esses dois ursos brancos e como sou feliz por estar tendo a oportunidade de estar mais próxima deles.Sou a irmã mais velha dessa linda família por parte de pai.Tive bastante convívio com as minhas irmãs durante a minha infância,tenho pequenas lembranças maravilhosas,mas,que são bastante significativas pra mim.Me lembro dos banhos que tomávamos juntas e daqueles cremes naturebas cheios de raízes que você usava no cabelo...adorava...queria ser igual a você,ter o cabelo igual ao seu...ficava horas passando creme no seu cabelo e depois você passava no meu...hoje percebo o quanto esse gesto representava/representa o tamanho do nosso amor e da nossa cumplicidade.Tive o privilégio de acompanhar de perto o início da sua relação com o “galeguinho”,as nossas subidas para Mauá eram sempre muito divertidas e gostosas,era sempre muito difícil ir embora,acho que até hoje,né?! Hoje,somos duas mulheres,com idades diferentes,com ritmos de vidas diferentes,mas,com um amor em comum que é imensurável!Acho que será impossível eu descrever aqui o que vivemos nesse final de semana do meu aniversário em Mauá.Foi uma mistura de tudo de maravilhoso que vivemos na nossa infância,com tudo de melhor que existe em nós hoje...foi uma explosão de alegria,de amor,de cumplicidade,de amizade,de cuidado,de querer estar perto.Não consigo descrever os momentos que eu tive de olhar para todas aquelas pessoas e agradecer,agradecer,agradecer...só isso...como sou afortunada por ter amigos tão incríveis,por ter uma família tão linda,que mesmo com todas as dificuldades,diferenças e “esquisitices”,se respeitam e se amam.Como sou afortunada por ter sobrinhos tão lindos,saudáveis,felizes...não imagina como agradeci diversas vezes irmã pela família linda que você construiu...Marcelo é como se fosse um irmão pra mim também (como ele mesmo fala: “Carochinhaaaa...pequenininha...eu jogava você de bomba na piscina...”) e me sinto tão bem quando estou perto de vocês,um sentimento de pertencimento e de gratidão que não consigo definir.Obrigada!Obrigada!Obrigada minha irmã!!”Você é luz...é raio estrela e luar...”

Irmãos



Ter irmão é uma benção e um desafio simultaneamente.

Você pode querer esganá-lo num instante, e no minuto seguinte, sentir um amor extremo te alcançando.

Acredito que um irmão é a primeira pessoa que nos desperta o instinto assassino, ao mesmo tempo em que, é com ele que aprendemos o que é cumplicidade.

Certa vez, um professor de filosofia divagou que antes mesmo de desenvolver o complexo de Édipo, aquele que tem um irmão descobre o complexo de Caim. Ou seja, antes de querer “matar” pai ou mãe, a primeira pessoa que você quer acabar com a raça, é seu irmão. É com ele que você terá que aprender a dividir o amor de ambos. E isso não é moleza.

Eu sou a terceira filha de uma família de quatro irmãos por parte de mãe e seis por parte de pai. Já nasci aprendendo a dividir. Amor de pai e mãe, nunca foi exclusividade minha. O que é bem positivo se pensarmos que a expectativa de ambos também já vem diluída.

Tive uma relação de amor e ódio com meu irmão caçula durante anos. Passou! Hoje só sobrou amor e uma torcida enorme por sua felicidade.

Se não há disputa, reina uma fraternidade, um tipo de amor, que você só tem por um irmão.

Com minhas irmãs mais velhas era diferente. A caçula era eu. Tive que aprender a rebolar pra achar meu lugar ao sol. Hoje entre períodos de cumplicidade absoluta e algumas faíscas, o que reina é a vontade de estar junto e jogar conversa fora.

Ninguém na vida sabe mais da sua história do que aqueles que vieram do mesmo caldo que você. Por isso fiz questão de dar um irmão para minha filha. Demorei pra criar coragem, mas nunca é tarde.

Na verdade o que me inspirou a escrever tudo isso foi o som das gargalhadas vindas do quarto dela hoje à noite. Os dois que em geral mantém uma disputa acirrada pela atenção dos pais, mas de vez enquanto abrem uma trégua e nos presenteiam com a mais pura sinfonia da felicidade.

Nessa hora me sinto grata em ver o crescimento mútuo que só um irmão traz a vida do outro. E agradeço também a meus pais por terem me dado essa oportunidade.

terça-feira, 20 de março de 2012

Esse é O Cara

Esse é o cara!
Ele é referência dessa interseção da fotografia com a pintura.
Seus quadros partem de algo que ele capta no mundo, muitas vezes através da fotografia e transforma em gigantes telas coloridas.