sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Visita ao Labirinto

Gosto de visitar a loucura, saber o que há lá. Tenho medo. Receio entrar e não achar a saída. Imagino um labirinto, que cerceia a genialidade. Entre a genialidade e a loucura há uma membrana fina, muito fina. O louco se perdeu, não achou a saída. O gênio consegue ir e voltar.
Não à toa escolhi essa profissão. Terapeuta é aquele que se autoriza ser visitante neste universo. Investigar o não palpável, admitir um mundo construído através de lembranças e sensações. As lacunas de memória são preenchidas pela imaginação. Como separar o que é fato do que foi construído? Pra mim não se separa, por isso não investigo muito o porque, não me interesso tanto pelo passado do paciente.
Meu foco é como ele percebe o que está acontecendo com ele agora. Como ele chegou até aqui. Aí é inevitável que o passado apareça. Todos nós temos uma história que nos fez chegar aqui. Por isso me interesso tanto pelas escolhas, quero saber como fizeram essa seleção do que servia ou não pras suas vidas.
Trabalhar com psicóticos é visitar a loucura alheia. Trabalhar com neuróticos é visitar a minha loucura, esbarrar em meus pontos cegos, me olhar no espelho!
Escrever é a minha saída, meu fio de Ariadne.
Pra quem não conhece esse mito: A linda Ariadne se apaixona pelo jovem Teseu que vai a sua Ilha lutar contra o Minotauro. Ariadne dá a Teseu um novelo que lhe possibilita sair com vida do Labirinto, onde o bicho habitava.
Gosto dessa imagem. Acredito que terapia é um pouco isso. Vou trançando um fio com meu paciente para que nenhum de nós se perca em nossos labirintos.
Entrar no labirinto é um processo arriscado de autoconhecimento. Depois que se inicia, não tem mais volta. Uma vez que olhamos pra dentro e descobrimos quem somos, quais nossas dificuldades e potencialidades, não tem mais como usar velhos mecanismos de defesa. Não há como esconder dos olhos e do coração aquilo que estamos vendo. É aí que começamos a sair da neurose. Paramos de correr atrás do próprio rabo.
A loucura pode ser criativa, inventiva e restauradora. É preciso se arriscar para visitá-la neste labirinto! A questão é o que ou quem será seu fio de Ariadne?

sábado, 23 de agosto de 2008

Paixão declarada

Declarar uma paixão é algo difícil, complexo e dá um super medo. Mas pode ser extremamente libertador para quem está apaixonado, mesmo não sendo correspondido. O medo da rejeição é o único empecilho para esse ato de bravura emocional. Não é pouca coisa, eu sei. Fugimos da rejeição e do abandono como o diabo foge da cruz! Levar um "toco" é péssimo, machuca, dá o maior bode, mas do chão a gente não passa, né? Como dizia Vinícius:"quem nunca sofreu por amor, não sabe o que é ser feliz". E optar pelo medo numa hora destas pode ser a pior escolha.
Declarar paixão é ato de coragem. No mínino, surpreenderá o outro. Verbalizar seu amor não é se fragilizar perante o ser amado, não é ser um carente louco à esmolar amor, muito pelo contrário, é ser dono de seus desejos e anseios. É ser generoso o suficiente para saber compartilhá-lo com quem lhe provocou tal sentimento, independente de resposta. É ser o senhor do seu amor, e não vítima dele.

Se apropriar de sua paixão, é saber que o outro, merecedor ou não, é mero coadjuvante nessa escolha, já que foi ele quem apertou o botão da paixão. Mas o botão é seu e a paixão também. Isso só revela o quanto você é capaz de amar e de se apaixonar. Se por acaso a paixão não for recíproca, já valeu! Você sentiu o amor correr nas veias e se deu conta do que povoa sua imaginação. Se Paixão é tela em branco, é preciso de distanciamento. Paixão é projeção dos nossos desejos e no mínimo serve pra gente perceber o que nos encanta e o que nos seduz. Por isso já vale, porque ali estará refletido o seu ser enamorado, o que há de mais bonito e amoroso em você.

Hoje, esse foi um dos temas de consultório. Quando cheguei em casa fui escutar um CD que acabei de ganhar. Lá estava uma música, intitulada: "Declaração de Amor", e que fala justamente disso.
A música é fresquinha e ainda não foi lançada, mas o autor é O Destemido Walace, um velho conhecido aqui do Blog.
Na música ele declara sua paixão de forma a se libertar do ser amado. Linda música, linda letra. Super Inspirada. A melodia nos leva por esse caminho de libertação. Uma vez explicitado tal sentimento, o amor cria asas e liberta!
Quem quiser escutar é só ir no www. Myspace.com/destemidowalace.
Aí em baixo segue a letra, só pra dar um gostinho:

“Declaração de amor”

Meu amor,

Pro que eu vou te falar
Não espero nada em troca
Nenhuma palavra sua
Não preciso de resposta

Nós já conversamos
Já entendi o seu ponto de vista
Pra você eu sou vítima do tempo
Pois este não era, o seu momento

Te procuro e declaro
que estou apaixonado
E me dizem: é suicídio e
eu digo estou aliviado!

Eu não tenho pudor
de me declarar
Tenho orgulho do que sinto
Mesmo que de você
Eu não possa me orgulhar

Eu formalizo meu amor
Não pra você se gabar
Mas por respeito a minha história
Que em meu último dia eu vou relembrar

Nota do AUTOR DA LETRA:
A musica é cantada do começo ao fim, sem interrupções de solo ou convenções intencionando uma declaração ininterrupta.
A bateria simula a batida de um coração, que até mudar o dedilhado da Mão direita é dobrado no tempo pra dar ansiedade.
O merengue entra no final, pra dar a sensação de alívio, de missão cumprida, daquele cara que sabe que já perdeu, mas que perder não é problema, e que uma vez feita a declaração do que ele sente, ele esta livre!

Vale a pena, escutar a música, ler a letra, se apaixonar, e lógico criar coragem pra se declarar!

domingo, 17 de agosto de 2008

Cinema: Um Bom Remédio!

Em momentos críticos da minha vida, me enfio numa sala de cinema e só saio de lá, quando meu termômetro começa a subir.
Quando meu avô morreu, fui andando sem destino e quando dei por mim estava no meio de uma sessão de Hair. A sessão acabou e eu permaneci na cadeira. Veio outra e confesso não lembro quantos foram os : “ when the moon is in the seven house, and júpiter...” que precisei ouvir para ter coragem de voltar ao mundo. O filme era perfeito para aquele dia. Só a crença hippie num mundo melhor me devolveria à sanidade perdida pela dor visceral que atravessava minha vida naquele momento.
Isso virou meu melhor anti-depressivo. Nada como viver a vida dos outros quando a nossa tá pesada demais. Funciona, posso garantir. É incrível o que uma sala escura, com ar condicionado e cheirinho de pipoca podem fazer por mim.
Hoje não foi diferente. Diante da tristeza e apreensão, me joguei numa sala bem gostosa e pertinho de casa. Escolhi uma comédia por motivos óbvios, mas fui temerosa porque sabia que meu humor tava péssimo e talvez não flexibilizasse a ponto de conseguir rir.
Uma salva de palmas para os que conseguem nos fazer rir! É para poucos. Não é qualquer ator que tem o tempo da comédia. Uma pessoa que sabe fazer rir se torna imediatamente bonita e inteligente pra mim. Rir faz bem pra alma!
Bem, fui ver um filme totalmente absurdo, tão absurdo que me tirou do ar por 2 horas. Consegui rir! Inevitável não lembrar da Bete e das gargalhadas que ela e meu marido tinham quando ela vinha aqui em casa. Passavam horas os dois às gargalhadas. Tinham o mesmo tipo de humor. Eu nunca entendi direito por que riam tanto, mas aquilo contagiava, e eu acabava rindo junto. Lembrei dela e não fiquei triste. Bom demais!
Bom, vale falar um pouco do filme que operou esse milagre. Não esperem muito, por que é uma verdadeira besteira. Mas é genial, pois consegue fazer graça com o tema mais polêmico do planeta: a guerra entre palestinos e israelenses, sem ofender ninguém, pelo contrário, mostra o absurdo deste conflito que não acaba nunca...
Não precisa conhecer história nem gostar de política para rir com o filme. Adam Sandler, faz humor com tudo: todos os modismos dos anos 80, o disco dos anos 70, com os filmes de ação, e principalmente com a cultura americana. Para quem não tá ligando o nome à pessoa é aquele ator que fez Click, O Paizão, Tratamento de Choque, com Jack Nicholson, entre outros.
No filme, o cara é um agente secreto de Israel que forja a própria morte para realizar seu sonho de ser cabeleleiro em Nova York. Parece idiotice? Pode crer que sim! Mas uma delícia.
Rir faz bem pra saúde, limpa o fígado e traz calor para o corpo. Era tudo que eu precisava.

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Saudade e Esperança

Hoje foi um dia estranho. Estava indo para terapia e recebi um telefonema com uma notícia muito ruim. Uma grande amiga acabara de falecer. Meu coração se encheu de tristeza.
Era uma pessoa forte e linda por dentro e por fora. Uma mulher Olímpica, grande, loira com lindos olhos azuis. Parecia uma gringa, uma polaca! Eu brincava com ela, dizendo que ela era avó da Xuxa. Tinha mãos enormes, e macias, que operavam verdadeiros milagres quando usadas para tirar a tensão alheia.
Ela se foi! Deixou aqui um hiato.
Já estou sentido muita falta de seus abraços de mãe ursa. Do cheiro gostoso de ervas que ela sabia misturar. Era uma sábia, uma espécie de maga.

Saí da terapia e fui para o Hospital. Uma pessoa muito querida está com a filha lutando pela vida. É impressionante a corrente de amor que cerca essa família. Como se fosse um grande coração batendo em volta deles.

Cheguei para consolar. Saí de lá acreditando no milagre que o amor pode operar!
Fui temerosa, com aperto no peito. Saí de lá, com a esperança renovada.

Deveria existir uma lei divina que proibisse as mães de sofrerem assim. Nenhuma mãe merece ver seu filho correndo risco de vida. Mães são fontes de vida, e nascem preparadas para morrer antes de seus filhos. Essa ordem jamais deveria ser quebrada. Jamais!

Quando minha filha nasceu, a entreguei nas mãos de Nossa Senhora e pedi para que Ela olhasse para minha pequena e que nunca a abandonasse. Sei que minha estadia aqui será passageira, e quero a Grande Mãe de olho grudado no meu tesouro maior: Minha filha.

Hoje, chegando deste dia de morte e vida é novamente a Ela que recorro. Essa imensa energia feminina que ganhou o rosto de Nossa Senhora: Agradeço a vida que tenho, rezo para aquietar minha perda, penso na família da amiga querida que se foi. Peço para que o desespero possa dar lugar à saudade, e que as boas lembranças aqueçam o coração daqueles que a amavam.
Só agora escrevendo estas palavras consigo chorar. Deixo as lágrimas lavarem minha dor.

Agora foco na vida. Numa vida inteira para ser vivida. Numa menina que está na faculdade. Peço com coração de mãe apertado que liberte todo sofrimento desta família e ajude a operar este milagre. Junto às mãos em oração e peço em voz alta: Nossa senhora, essa menina é guerreira, ela vem lutando com fervor, permita que toda essa energia de amor, renove a saúde de seu corpo!

Amém

Para Beth, Sandra e Juliana todo amor que houver nessa vida!

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Sonhos: Condição primária de sobrevivência do Indivíduo.

Por: Destemido Walace


O que me faz sentir vivo?
Primeiro gostaria de dizer que vou encarar essa pergunta como “o que me faz extremamente feliz?” ou mesmo “O que me faz pensar que vale a pena viver?”
Para esta pergunta há várias respostas obvias, de vasto conhecimento e aceitação popular, que até mesmo pelo seu acesso fácil e uso banalizado perderam por assim dizer seu valor original. As respostas seriam algo como “estar apaixonado” ou “o amor” ou mesmo “A realização dos nossos sonhos”.
Pois escolho a última resposta – a realização dos nossos sonhos – como algo que me faz sentir vivo. Porém pretendo tentar resgatar o real valor que esta resposta tem e porque não ousar até redimensioná-lo.
Os sonhos são comumente conceituados como aqueles desejos praticamente impossíveis de alcançar, ou que só alcançaríamos mesmo num “sonho de verdade”, daqueles que temos quando estamos dormindo. No dicionário podemos encontrar varias definições que também nos supõe a dificuldade de realizar um sonho, são elas: utopia; ficção; fantasia etc.
Mas da onde vem esse desejo tão difícil de ser realizado? Porque temos sonhos? Afinal se realizá-los é tão difícil eles seriam muito mais um fonte de frustração do que de felicidade. Por que então, todo o ser humano não hesita em dizer que tem um sonho e chega muitas vezes a abrir um sorriso só de pronunciá-lo em voz alta?
Tenho uma teoria sobre isso. E essa teoria parte da premissa de que ser feliz é uma questão de sobrevivência. A primeira vista essa afirmação parece ter sido tirada de um livro de poesias e soa demasiado romântica pra ser levada a serio. Posso afirmar porém, que trata-se até mesmo de uma afirmação cientifica.
Não é novidade que o estado de nossa mente influi diretamente no nosso corpo, que uma pessoa em depressão, por exemplo, tem as defesas do corpo debilitadas. Podemos ir até mais longe parafraseando Jayme Ovalle e dizer que “o câncer é a tristeza das células”.
Bom o inverso também é verdadeiro. Ou seja, uma pessoa feliz costuma gozar de uma saúde melhor do que uma pessoa em depressão, o funcionamento do organismo fica mais equilibrado.
Dessa forma concluímos que a felicidade pode ser encarada, do ponto de vista biológico, como um fator de sobrevivência. Ou seja, da mesma forma que nosso paladar nos diz que uma comida estragada tem um gosto ruim, pra que nós “instintivamente” saibamos que aquele fruto pode representar um risco pra nossa sobrevivência, os nossos sentimentos nos avisam que estar triste também é ruim, pois representa uma ameaça a nossa vida debilitando as defesas do organismo. Logo, ficar feliz é bom porque faz bem. Obvio não é?
Mas, como os sonhos entram nessa história? Da onde eles vem? Não sei se já parou pra pensar, mas quando você nasceu ninguém perguntou o que queria fazer da vida, nem se preocuparam em descobrir que tipo de pessoa você seria e que coisas poderiam deixá-lo feliz, até porque você não saberia responder. Mas o fato é que quando nascemos nos já correspondemos no mínimo aos anseios mais profundos e já temos uma lista de expectativas a cumprir perante um pai e mãe. Já viemos ao mundo fadados a suprir expectativas alheias e não as nossas. Isso na melhor das hipóteses, pois às vezes o nosso nascimento pode corresponder até ao “pesadelo” de alguém.
Enfim, o fato é que Ninguém falou pra você “olha, na vida, você só tem um dever: ser feliz, então vá descobrir como ser feliz”. Então nos passamos a agir como esperam que a gente aja. Só que a natureza é sabia. Ela te dá de bandeja o seu meio de ser feliz. Sabe qual é? O sonho. Nos ficamos tão ocupados atendendo expectativas alheias que esquecemos de olhar pra dentro e descobrir quais são nossas próprias demandas para felicidade, logo para a sobrevivência. Donde concluo que os sonhos não passam do seu instinto mais primitivo de sobrevivência, que uma vez deixados de lado, esquecidos pelos próprios sujeitos sonhadores, ganham essa triste conotação que está hoje no dicionário – fantasia, ficção, utopia. Preferia abrir o dicionário e ler “sonhos – condição primária a sobrevivência do individuo”.
Então respondo que sim, se tem algo que me faz sobreviver, que me faz sentir vivo, que me faz feliz e me faz pensar que vale a pena viver, eu posso chamar isso de sonho, seja ele qual for. Sonhem e Sobrevivam!

Destemido Walace.

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Um Mapa Inexistente

Por Amélia Clark

Viva a vida.
Às vezes parece obrigação.
Será que ficar sentada na poltrona confortável do pai assistindo episódios de Lost é viver a vida? Eu aprendo ué! sinto suspense nas veias... Aprendo a me virar numa ilha...Estimulo a minha criatividade!
Ta, tudo bem, confesso que nessas horas tô com preguiça de viver mesmo!
Mas sou uma pisciana! E piscianos não conseguem fugir dos seus desejos. Os desejos pipocam na nossa pele!
Aos 31 (claro!) larguei toda minha vida de executiva enlatada e fui atrás dos meus sonhos. Como todos os sonhos, eles são um pouco turvos, não têm ordem cronológica, nem sempre as pessoas têm faces e a cor é uma mistura de colorido com preto e branco. Mesmo assim estou indo atrás deles, seguindo um mapa inexistente.
Uma viagem de pelo menos 1 ano, de carro, com meu companheiro, acampando nos pontos mais belos desse imenso Brasil, sem roteiro pré-definido. Só a decisão de ir ao desconhecido, mas com a certeza do rumo certo, já seria motivo suficiente para o sangue ferver nas veias.
Sim e não! Levo meu computador comigo para sempre me deleitar com os novos episódios baixados de Grey’s Anatomy!
Há momentos em que é mais fácil viver a vidas dos outros. Brincar de Barbie era mais fácil pra mim do que soltar pipa ou subir em árvores.
É o medo de botar a cara pra fora da barraca e estender a face à vida.
Às vezes as coisas pequenas são menos desafiantes. Me sinto bem viva quando coloco meu ipod no ouvido e saio dançando as minhas musicas preferidas. Danço mesmo, de verdade. Em pleno por do sol, na beira do rio. A adrenalina sobe como numa rave.
Olho pro outro lado do rio e vejo um pescador no seu barquinho. Nossa! Com certeza tô parecendo louca. Paro imediatamente. Cortou minha pulsação.
É o medo de ser mal interpretada pelo pescador desconhecido que tá há mais de 1 quilometro de distância e que nunca mais vou ver na vida.
Às vezes se vestir bem e ir pra balada ajuda. Nada melhor do que saber que tenho uma festa chique. Assalto o armário generoso da minha mãe e sei que vou me sentir bem viva chegando de salto alto.
Quando completamos 30 anos, eu e minhas amigas entramos na fase do batom vermelho. Foi algo que de repente começou a acontecer, essa vontade de ter os lábios rojos na pele clara. Comprei vários tons, todos combinando com os esmaltes. Esperei a festa chique pra botar o preto básico e justo, com o detalhe vermelho nos lábios da pele branca.
Saindo de casa me senti mulher, me senti viva. Chegando na festa cruzei com uma coluna espelhada e não me reconheci. Meu Deus! Tira logo isso! Não dá pra te reconhecer! Cruzes, parece que tá oferecendo a boca!
É o medo de perder o disfarce, a máscara da identidade já conquistada.
Às vezes as compras ajudam. Ir pra Nova York a convite da melhor amiga que tem muitas milhas e mora lá. Dólar baixo, a América sempre on sale. Calça Seven, óculos da Oakley, sapatênis da Diesel, blusinhas de jovens da Abercombie, esmaltes da Sephora, qualquer coisa do Soho.
Quando vi que estava sem passaporte e que teria que pagar 300 reais ao despachante para acelerar o processo na PF, praticamente me recusei a ir. Não! Não, posso gastar dinheiro agora! Não posso tirar ferias das ferias! A vida não é essa moleza não!
É o medo de não ser merecedora e acabar perdendo todas as coisas boas que caem no meu colo.
A verdade é que pra mim nada, nada, nada, me faz me sentir tão viva quanto uma boa ANÁLISE! Seja no divã. Seja na astróloga. Seja no Curso em Milagres. Seja no ouvido amigo. Seja no Dalai Lama, na Amma ou no Pranayama.
É na descoberta do que está coberto, que meu coração pulsa com vontade.
É na procura do que está no interior da minha alma que encontro minhas veias pulsando.
Olhando para o mapa que ainda não existe e desenhando meus passos com canetas de cor, já que nada é preto no branco.
Só assim é que se vence o medo.


A viagem dela está no www.expedicaoaguasdobrasil.blogspot.com

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

O que me faz sentir viva

A primeira idéia que veio é de que vida é prazer! Então, pra me sentir viva era só seguir meus instintos e fazer valer meus desejos, nem que seja sentar na praia com um saco de biscoito globo na mão, um copo meio mate meio limão na outra, e um jornal me esperando para ser devorado.
Tenho pequenos prazeres relacionados à vida nesta cidade que são inabaláveis. O cheiro da maresia, o vento batendo na cara quando ando de bicicleta com minha família ou ouvir a musicalidade do carioca da favela ao asfalto.

Pensando um pouco mais, me dei conta de que não são só os momentos de prazer que me fazem sentir viva, mas também quando choro ou sofro. Foi então que percebi que me sentir viva é estar em contato. Seja com meu vazio, minha dor, prazer ou alegria.
É antes de tudo me sentir plugada comigo mesma. Me sentir pulsando de dentro pra fora e de fora pra dentro.
Respeitar a linguagem do coração. Cessar o esforço da lógica e da razão, de tentar me convencer que não estou sentindo aquilo que estou sentindo. Simplesmente fazer a cabeça repousar no coração. Aceitá-lo, reverenciá-lo, como fazemos ao iniciarmos a prática da yoga, meditação ou oração. É o gesto do Namastê. Abaixar a cabeça em direção ao coração.
Nem sempre é fácil, principalmente se o coração está cheio de dúvidas e escasso de felicidade. Olhar o escuro dentro de nós também é fazer contato, e esse é um contato que dói. Sentir dor também é estar vivo, né? Caso contrário, fica todo mundo com aquela cara de quem tomou Prozac pra sempre! E isso definitivamente não é a minha idéia de felicidade.

Pra me sentir viva ...

Preciso me apaixonar por pessoas, por amigos, por pacientes, me reapaixonar pelo meu marido, por idéias, por artistas.....
Sentar com uma amiga e falar besteira. Dar gargalhada!
Não ter vergonha de pagar mico e me expor com a liberdade de poder acordar sendo outra amanhã!

Sinto o sangue correndo nas veias numa discussão filosófica. Ter uma aula sobre Nietzsche me faz entrar em êxtase. Trocar então com pessoas inquietas, é delírio puro! Chego a ter insônia, fico elétrica. É como uma febre, toma primeiro a cabeça e depois enche o coração. É uma injeção de Vida em forma de troca!

Sinto a vida pulsar em mim, vendo minha filha crescer tão linda, resplandecente, com os olhos curiosos e feliz. Sentir seu cheiro, beijar a covinha escondida no cantinho da sua boca e ouvir sua gargalhada deliciosa.

Me sinto viva praticando yoga e agradecida por ter encontrado mestres como Mahavir, Nando, Sushilla e Shakti. Gente do bem, iluminada e generosa.

Me sinto viva ouvindo música, dançando, comendo uma pizza com meus amigos, ou em contato direto com a natureza. Estar num lugar cercado por uma natureza abundante, seja mar, cachoeira ou montanha, daqueles que o silêncio ensurdece a gente, e só é quebrado pelo canto dos pássaros, sapos ou cigarras, é estar em contato direto com Deus. É vida na veia!

Me sinto viva na estrada. Em especial na de Búzios.
A primeira curva que dá de cara na praia Rasa, me traz a infância, adolescência e todos os bons momentos que passei naquele lugar.

Me sinto viva escrevendo esse blog e trocando com todo mundo que ousa postar sua opinião, ou com aqueles que comentam ou criticam quando eu tenho oportunidade de encontrar. Por isso fica aqui o convite: Se esta crônica te tocou de alguma forma, ou simplesmente te fez pensar ou sentir alguma coisa, vamos lá, me diga:

O que te faz sentir vivo? O que faz você sentir seu sangue correndo nas veias?



Um grande beijo e obrigado por me ajudar a estar em contato.

terça-feira, 5 de agosto de 2008

Orgasmo: direito Fundamental!

Por Macho de Respeito
Geralmente não dou muita importância aos dias comemorativos, com exceção dos tradicionais. A verdade é que nos dias de hoje nos acostumamos com essa história de “dia disso”, “dia daquilo” remetendo quase sempre a determinados grupos, atividades e temas com menor, ou quiçá, quase nenhuma inclusão social a serem lembrados somente em um dia do ano.
Pensemos a respeito a partir de alguns exemplos de datas comemorativas: 08 de março- dia das mulheres – não é lógico concluirmos que esse dia somente existe porque vivemos numa sociedade machista? Se o mundo fosse feminista, ou não houvesse grande diferença entre os sexos, teríamos o dia dos homens? E o dia da igualdade racial: se nossa sociedade fosse realmente sem preconceitos, seria necessária essa data? Ela já não estaria inserida no cotidiano da sociedade? O dia do meio ambiente segue a mesma linha e muitas vezes se estendendo por toda a semana, concentrando atividades voltadas à questão ambiental...Acho legal, apoio totalmente....Mas a questão central é o que fazemos no restante do ano? Como fica esse e outros temas no conjunto da sociedade?
Não seria melhor garantirmos essas presenças efetivas no nosso dia a dia? E que todos os dias fossem das mulheres, o que para mim já é, do meio ambiente, da igualdade racial, dos indígenas, das donas-de-casa, dos sem-terra, e de todos os segmentos, temas e pessoas ainda marginalizadas na sociedade.
Entretanto, ao me deparar com o tema dessa semana, não poderia deixar de refletir um pouco e eventualmente dar a minha singela contribuição. No dia 31 de julho comemora-se o dia do Orgasmo e vimos no último texto que trata-se de um desses dias inventados para incentivar o consumo.
E aí me surgiu a idéia de que se existe o dia mundial do Orgasmo que tal o incentivarmos tornando-o parte do nosso calendário oficial. Veja, o Orgasmo não tem orientação sexual, não tem credo, não tem raça e não sofre nenhum tipo de preconceito. Além disso, é saudável, faz bem a pele e todos nós o queremos em nossas vidas e se possível aos montes.
Percebe a importância dele? Eu que sou macho e espada chego a ele diariamente. Enfatizo o “diariamente” porque realmente procuro-o todos os dias. Se estou acompanhado me importo profundamente se a minha parceira alcançará o clímax. Uma relação sexual que não satisfaça ambos, não satisfará o parceiro masculino emocionalmente, não importando quanto prazer físico ele consiga do ato em si.
Por outro lado, se minha parceira não está a fim, pelo menos o basquetinho ela vai jogar... E se estiver só, ligo a tv a cabo e fico na mão, literalmente na mão...
Então já que estamos em ano de eleição municipal vou escolher o candidato que assumir o compromisso público por escrito de que, se eleito, irá apresentar um projeto de lei para oficializar o dia do Orgasmo. Vamos começar devagar, com uma lei municipal para não explanar muito... tipo o feriado de São Jorge que começou municipal e hoje é feriado Estadual. Entretanto, vou logo avisando que minha pretensão não é modesta, que o Orgasmo seja um direito fundamental de todos previsto no artigo 5º da Constituição Federal:
“Art. 5º - Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança, ao orgasmo e à privacidade, nos termos seguintes” ...
E no meu ante-projeto de lei no dia 31 de julho será estabelecido ponto facultativo a partir das 15 hs. Antes que eu desperte a ira de algum workaholic as horas restantes seriam compensadas aos poucos. Sem nenhuma culpa, as mulheres poderão fazer as unhas, depilação e outros tratamentos para a comemoração de logo mais. Os homens sairão direto do trabalho e comprarão aquela lingerie da Verve, champagne e providenciarão o menu leve da noite. As crianças serão levadas para casa de um dos avós, de preferência do que for viúvo(a) ou broxa. Nada contra o orgasmo da terceira idade, mas mesmo em guerras militares há sempre baixas civis...
E aí nesse dia especial, o homem que se sentir inseguro ou que quiser bater um recorde vai até a farmácia e comprará aquele gatorade azul ou amarelo em forma de pílula para incentivar o seu atleta. E os que estão sós, ou a procura terão diversas opções de lugares para irem á noite para encontrarem uma companhia para uma noite de prazer sem culpa.
Então, após o “boa noite” do jornal nacional , a TV aberta sairá de sua programação normal, dando lugar a “Voz do Brasil” e em seguida a “Semana do Presidente”. E nesta noite, os casais se entregarão mutuamente e sem pressa para atingirem o estado fisiológico de excitação sexual e gratificação, seguida por um relaxamento das tensões sexuais e dos músculos de seus corpos.
A adrenalina despejada pelas glândulas adrenais será jogada no sangue e dilatará as artérias, aumentando o fluxo sanguíneo nos músculos envolvidos nas atividades sexuais. Para uma melhor oxigenação do sangue, os pulmões aumentarão os trabalhos e a respirações se tornarão curtas e rápidas. O suor aumentará, provavelmente para dissipar o calor acumulado dos corpos.
E aí, como numa epopéia rodriguiana aquela energia positiva, coletiva imensa propagará de todos os cantos e durante alguns segundos o Orgasmo reinará absoluto entre nós.
E após nos entregarmos sem limites cairemos desfalecidos nus entre os lençóis e acordaremos exaustos em Agosto, após uma noite mal dormida mas que não nos esqueceremos.
MDR.

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Dia do Orgasmo

Dia 31 de julho foi dia do Orgasmo! Atendendo a pedidos São Pedro me deu um domingo chuvoso e pude colocar a leitura em dia. Confesso que li esta notícia com certa incredulidade. Dia do orgasmo? Com assim? Agora teremos uma data certa para gozar? Era só o que faltava!
Fiquei intrigada como uma data dessas pode surgir assim, do nada! Acabei fazendo algumas fantasias a respeito de sua criação. Primeiro imaginei algumas mulheres, donas de casa reunidas reivindicado a experiência, saindo em marcha com cartazes na mão! Totalmete improvável, concordam? Depois imaginei homens sentados numa mesa de bar brindando o fato de terem escolhido um dia para exaltar o tão procurado orgasmo. Tão improvável quanto! Por fim, pensei nas sex shops reunidas inventando a data afim de impulsionar a venda de brinquedinhos sexuais.

Parti para investigação e descobri que o Dia do Orgasmo é uma data mundial e foi criado há quatro anos, na Inglaterra, pelas sex shops. Pesquisas feitas por essas lojas revelaram que 80% das mulheres inglesas não atingiam o orgasmo durante as relações. O comércio então, resolveu dar uma mãozinha, sem duplo sentido, por favor! Pelo que andei lendo, parece que as brasileiras não ficam atrás.

Bom, começo a olhar para a data com outros olhos. No mínimo esta é uma oportunidade para debate, pois problemas na sexualidade podem apontar para outras questões sérias na área da saúde, tais como depressão, ansiedade, estresse, hipertensão, diabetes, doenças cardíacas, neurológicas ou endocrinológicas. Segundo algumas pesquisas, mais de 50% dos casos de disfunções sexuais femininas estão associados a quadros depressivos, ou são conseqüências de efeito colateral de medicamentos. Não sei se é do conhecimento geral, mas muitos antidepressivos retardam ou dificultam o orgasmo. Alguns são áté indicados no caso de ejaculação precoce. A turma que toma "bola" pra emagrecer, já deve ter percebido que a libido diminui proporcional aos quilinhos na balança. Ficam todas magrinhas, mas sem tesão!

Acredito que esta comemoração jogará luz em questões que são verdadeiros tabus na relação a dois e ajudará muitos casais a soltarem o verbo a procura do tão falado orgasmo. Vale ressaltar, que os franceses chamam orgasmo de petit mort, pequena morte. Indicando que a Entrega é ingrediente fundamental nesse caldo. Lógico, não podemos deixar de agradecer as sex shops por levantarem essa bola. Vale uma visita, estão se proliferando pela cidade.
Desejo à todos uma boa entrega!