O Sádico, o masoquista e o resto de nós.

Ela acorda, o corpo todo dolorido das pancadas da noite anterior. Levanta determinada a mudar de vida.

Se olha no espelho e faz um balanço de toda violência que vem sofrendo todos esses anos. Parece mais velha do que realmente é.

Olhando em volta nota que desta vez ele levou embora tudo que havia de valor na casa.

Chora em silêncio. Promete a si mesma que nunca mais!

A semana passa, a noite chega e ele bate a sua porta. Então ela pensa que deveria lhe dar outra chance. Que talvez desta vez seja diferente, que ele mudou e talvez ela até tenha provocado aquilo tudo.

Se sente culpada por ter sido vítima.

Aceitamos o amor que achamos que merecemos.

Para todo sádico há um masoquista. E entre eles há a ilusão de que desta vez será diferente.

 Há um tesão neurótico na dor e na angustia, não é a toa que 50 tons de cinza virou um best seller.

Acabamos a sessão e digo pra ela: Valorizamos demais a esperança mas no seu caso a esperança faz você reincidir no erro.

Sei que fui dura! Afinal, quem sou eu pra tirar a esperança de alguém que já sofre tanto?

Fico com meus pensamentos e com sentimento muito forte de pena, raiva e amor.

Como ajudar alguém que mixa amor e dor?

Acredito que dependendo do nível da neurose, a gente consiga fazer isso através da própria relação terapêutica. Não é moleza, requer muita energia, mas é possível. 
Quem vencerá a queda de braço? A crença que um amor viciado em dor pode resurgir das cinzas como algo bom, leve e feliz? Ou a coragem de romper com este ciclo e se lançar no vacuo, no desconhecido, mas andar na direção de um amor que pra ser sentindo não precise tirar sangue?