domingo, 13 de julho de 2008

Destino: Escolha ou Imposição?

Nunca acreditei muito em destino. Chamo de destino a idéia de que existe um plano reservado para cada um de nós, como se não houvesse escapatória, como se estivéssemos fadados a seguir por um caminho específico. Essa é uma idéia que me assusta, pois extingue o nosso livre arbítrio. Gosto de pensar que sempre temos escolhas, por mais difíceis que sejam. E comungo com a idéia existencialista que somos sempre frutos dessas escolhas.
Mas há uma coisa que se repete no meu consultório e que dividirei com vocês agora. Muitas vezes eu ouço o medo das pessoas e percebo que é justamente para lá que elas se encaminham. Parece contraditório que justamente o que mais temo é o que procuro. Afinal, teoricamente deveríamos evitar aquilo que tememos, certo? Nem sempre.
A primeira vez que pensei sobre isso confesso que achei absurdo. Como caminhar justamente na direção daquilo que evito? Era óbvio para mim que caminhava justo na direção contrária. Mais tarde descobri que o buraco era um pouco mais embaixo.

A mitologia Grega está repleta de histórias onde heróis fogem de seus destinos mas, acabam concretizando-os ali adiante.
O mito de Édipo ilustra muito bem isso. Laio, rei de Tebas, vai ao Oráculo para saber o que o destino lhe reserva. Lá escuta que seu filho o matará e se casará com sua esposa. Horrorizado com tal destino, ele abandona a criança no alto de uma montanha.
Alguns camponeses o encontram e entregam-no ao Rei de Corinto.
Édipo é criado então, fora de Tebas, sua terra natal, acreditando que os Reis de Corinto são seus verdadeiros pais. Quando jovem, ouve rumores sobre sua origem e vai procurar o Oráculo que lhe profetiza a mesma história que apavorou seu pai biológico. Édipo, atormentado foge, Achando que está fugindo de seu destino, na verdade está indo de encontro a ele. Chegando a Tebas briga com um desconhecido e mata-o. Aqui se concretiza a primeira etapa do oráculo. Este desconhecido era seu pai.
Sem saber vai passo a passo a caminho de tudo que mais temia. Apaixona-se por Jocasta sem saber que era sua mãe e se casam. Ele realiza seu “destino” acreditando que fugia dele.

Às vezes penso que damos o nome de destino a um padrão inconsciente que levamos conosco e que vamos sem perceber aplicando a nossa vida. Quando nos damos conta lá está ele, pronto, feito, um enredo completo no qual atuamos.
Acredito que é em terapia que podemos tomar consciência desse enredo e não ser “enredado” por ele. Ali é o espaço onde podemos recontar a nossa história, tomar consciência de padrões que repetimos sem perceber, tomar as rédeas de nossa vida, fazer escolhas, transformar o “destino” naquilo que escolhemos para viver.
Um paciente que sempre fantasiava a respeito de seu trabalho e temia ser mandado embora, quando finalmente aconteceu sentiu-se aliviado. Finalmente se viu deparado com seu temor e soube vencê-lo. Percebeu que sobreviveu e se reergueu com aquilo que ele fantasiava ser o pior dos mundos.
Uma paciente temia ficar igual a sua mãe, rabugenta e controladora. Se casou com um sujeito bem “bicho solto” pra não ter que ficar controlando o “cara”, dizia ela. Qual foi sua surpresa quando tiveram seu primeiro filho? Ela se sentiu presa em casa e passou a azucrinar o marido. Tornou-se ranzinza, mal humorada e finalmente um dia em sessão percebeu transtornada que se transformara naquilo que mais temia: sua mãe.
Foi só a partir deste momento que realmente começou a traçar uma nova direção e um novo padrão de funcionamento emocional. Efeitos colaterais da consciência! É neste momento que ocorre a “magia da terapia”: se passo a perceber como estou funcionando, saio do automático. Aquele comportamento que antes era engatilhado imediatamente sem um pingo de consciência, agora pode até se repetir, mas eu saberei exatamente o que estou fazendo e o que estou reproduzindo. Aos poucos ou até imediatamente passo a fazer escolhas diferentes e vou testando um novo formato de comportamento. É o tal do “dar-se conta”, depois dele nada permanece igual!

26 comentários:

Anônimo disse...

Depois de um tempinho sem comentar, agora a primeira!! :)

Concordo com tudo o que você falou! Acreditar em destino é não querer se responsabilizar pelas escolhas. O destino não tem como existir sem escolhas e decisões. Se algo acontece tem a ver com escolhas ou caminhos que foram tomados.

Culpa do destino?! E aonde fica a nossa capacidade e liberdade de escolher?! Pode parecer mais fácil achar que quando é destino, não adianta fazer nada. Mas isto não é verdade. Deixar o "destino" decidir é uma decisão minha.

Lutar pelo que se quer não é fácil. Mas saber que tenho o poder de decidir dá uma sensação de liberdade, que não troco por nada. A partir daí sei que posso às vezes "deixar a vida me levar", repetir comportamentos, mas ai saberei que não posso culpar o destino, mas que o que aconteceu foi por causa de escolhas minhas! E se eu não gostar e quiser mudar, também posso. (aí entra a liberdade!!) Porque quem faz minha vida sou eu... Ainda bem!

Isto me lembrou o "medo do desconhecido"! Bem parecido...

Anônimo disse...

Monica, ADOREI O BLOG, visual bacanérrimo, conteudo espetacular, parabens por mais esse sucesso. Você é muito especial, alem de tudo é inteligentérrima, sensivel , alegre e tem a Manu. rsrsrs
Fafa

Anônimo disse...

Bacana esse forma de olhar o Edipo. Nunca tinha visto por esse ponto de vista.
Dá medo perceber que podemos estar nos dirigindo para aquilo que mais tememos. Vou ficar de olho. preciso voltar pra terapia com urgencia
bjs

Anônimo disse...

Oi Mônica!
Tive que ler umas três vezes para poder entender emocionalmente!! Por que será ? rss
Essa idéia de que o "destino" tem a ver com a maneira que levamos a vida, é nova para mim.. e que muitas vezes é inconsciente !
O problema maior pra mim é quando você muda esse padrão . Difícil para quem já está acostumado a te ver e viver com você assim e muito mais difícil acho que é bancar essa mudança toda !!!! mas acho que uma hora se aprende!!! rsss muita segurança para isso tudo!!!! Bom, mais é muito melhor do que deixar a sua vida ser "guiada"
Beijos, monicaaa

Anônimo disse...

Concordo com vc destino pra mim é escolha. parabens To adorando esse blog. Continue a escrever. bjs

Adoráveis Descobertas disse...

Concordo plenamente com o que vc escreveu. Não há caminhos pré-determinados, nós é que fazemos nossas escolhas, que na maioria das vezes são inconscientes. Só quando tomamos consciência de que não estamos satisfeitos com essas escolhas e que algo está errado é que podemos mudar o rumo que nossa vida toma. Realmente, só é possível dar este passo quando fazemos terapia e entramos em contato com nossa essência e assim podemos fazer escolhas conscientes e decidir o que é melhor para nós. Mas como este é um processo difícil que implica em muitas mudanças interiores, muitas pessoas tem medo e continuam repetindo os mesmos erros, sendo infelizes, culpando o destino, as circunstâncias...

Eu fiz e continuo fazendo meu processo de auto-conhecimento e hoje faço escolhas conscientes...e sou muito mais segura e feliz.

Beijão,

Anônimo disse...

Lendo o que vc escreveu dá vontade de correr de volta pra terapia. Esse momento é realmente´mágico, qd a gente descobre que pode mudar algo que nem sabiamos que estavamos reproduzindo.
Obrigado, devo dizer que qd leio seus textos faço um pouquinho de terapia. gratis rsrsrs
obrigado
bjs

MR disse...

Esta frase sempre ouvia do meu analista.. "O medo é prá onde vc se direciona!" e durante muito tempo não entendia..hoje compreendo que temos um rio da vida com correntezas..se deixamos nos levar..dará onde seria o tal destino..o paradigma, a repetição de padrões; mas se entendermos que temos consciência e é possível mudar, enfrentamos tudo e fazemos nossas escolhas em prol de um futuro melhor , mais a ver conosco: a escolha é individual, o arbítrio é único!

Anônimo disse...

Destino? Tema muito interessante.
Nao sei se acredito em destino, acredito no livre arbitrio mas tambem acredito que tem coisas que vao acontecendo na nossa vida e se repetindo ate que a gente aprenda alguma lição, ou seja, mude o nosso pensamento, as nossas ações, o nosso padrão.
Um beijo
Fernanda Falcão

Anônimo disse...

Monica, transcrevo palavras de um outro bloguista em que faço as minhas palavras:

"Uma pessoa pode planejar algo para sua vida, mas além da possibilidade do planejado não ocorrer, pode-se concluir também que foi o destino que fez com que ela planejasse aquilo! Para quem é criacionista e acredita que existe um único Deus supremo e que tem poder e controle sobre todas as coisas, conseqüentemente esta pessoa vai acreditar que é Deus que controla o destino. Mas e para quem é evolucionista ou para quem tem qualquer outra crença? Por este motivo que surgem tantas diferentes explicações, teorias e mitos para este mesmo tema.

O que falta a praticamente todas as pessoas é a capacidade de observar que tudo o que acontece é, necessariamente, causado por algo ou alguém. Ninguém estaria neste lugar que é conhecido por mundo se não houvesse um motivo, e ao criar-se este motivo criou-se junto o destino. Ou seja, se o ser humano existe, ele existe por um motivo, por um destino, mas ele não pode conhecer este motivo, pois em caso contrario este seu destino perderia o valor, seria invalidado".

Nós que estudamos em colégio religioso, poderiamos até entender que D's é o guia, mas eu, que me oponho a uma visão tão limitada, entendo que o destino é o fim de um longo percurso que trilhamos em nossas Vidas, depois que "pedras" são colocadas a nossa frente para serem ou movimentadas ou arrancadas...destino, pra mim, será a morte, nunca antes...bjs, Figura.

Anônimo disse...

É... esse teme é mto difícil,principalmente ao ser abordado por nós terapeutas.
Bom, concordo com o q vc disse. A gente acaba se encaminhando pra onde nosso medo nos leva tentando se desviar dele. Isso provavelmente tem muito a ver com nossa herança familiar, a missão que a gente recebe do nosso clã. Muita gente morre sem se dar conta disso.Muita gente carrega uma cruz a vida inteira, é infeliz a vida toda e nem se dá conta que poderia lutar para sair do padrão, para começar de fato ser feliz, se conhecendo melhor e descobrindo aonde quer chegar.
Mas tem outra coisa que excede todos nós e que ninguém sabe o q é, nem eu. Na verdade, nem gosto de falar sobre isso pq não há argumento possível. É uma coisa meio assim: de quem é esse mundo? Pra q eu tô aki? Pra q me deram tal coisa e não outra? E aí, a partir daí, eu acredito sim q eu sou o q eu faço do que me deram. Eu sou minhas escolhas. É q tem alguma coisa anterior a essas escolhas q eu não sei o q é e q não tem o meu dedo. depois, é q eu meto mesmo o dedo e luto pra ser feliz, pq afinal a vida é minha, né!!
bjs, queridona.

Anônimo disse...

“Num guento”...tenho que participar!

Adorei esse texto (pra variar) e concordo 99%. O 1% que eu não concordo é que sim, eu acredito em destino.! Mas...pra onde ele vai me destinar, eu escolho!

A vida é feita de escolhas. Definitivamente!

Fazemos escolhas o tempo todo. O que precisamos é sermos cautelosos nessas nossas escolhas.

Pois como diz aquela frase de Antoine de Saint Exupéry em “O Pequeno Príncipe”:
“Você se torna eternamente responsável por aquilo que cativa”.

Parabéns mais uma vez! Esse blog já ta sendo uma terapia...


Mil beijos, Joana

Anônimo disse...

Acho que a vida tem uma mistura de livre arbitrio e "destino". Não dá pra negar que tem coisa que acontece com a gente que parece que vem do além! Mas concordo com vc pois faz parte das nossas escolhas pegar ou largar isso. Esse blog me faz pensar, adoro.
bjs

Anônimo disse...

Panico total! Eu tb tenho medo de ficar igual a minha mãe. Isso siginfica que já estou ficando?
Como reverter esse processo?
bjs Lu

Anônimo disse...

lu,
acho q se seu medo é tão grande assim e se isso te atrapalha(vc já tem pânico total de ficar igual a sua mãe),procure um terapeuta. como eu disse anteriormente, provavelmente uma terapia pode te ajudar a tomar consciência desse lugar que vc ocupa na tua família e tendo essa consciência,vc pode decidir se essa missão familiar faz sentido pra vc ou não. bjs, barbara.

Anônimo disse...

kpmoufeu acredito em destino e escolhas. aliás acho q são duas coisas diferentes. destino é algo maior, que eu não posso intervir. Não sei coisas que a gente não pode prever tipo perder pessoas q a gente ama, por exemplo. A gente não pode fazer nada pra mudar coisas assim, que não envolvem nossa vontade. Escolha é outra coisa. tem momentos em que tudo depende de vc. Por exemplo, q profissão euvou seguir, onde vou morar, pra onde vou guiar minha vida amorosa etc... são duas coisas diferentes pra mim : o destino e a escolha. Concordo com vcs terapeutas em uma coisa tb:quem tá mais consciente de si faz escolhas melhores e caminha com mais leveza. Aliás, to começando a ver que ter um terapeuta na família é muito proveitoso.

Anônimo disse...

obrigada, irmão. E então, qndo vc vai começar sua terapia? rsrs bjs

Jorge Itapuã Beiramar disse...

Interessante,

quando penso em destino, me vem primeiro a idéia de KARMA! Como se todos nós tivessemos algo a ser trabalhado, a conquistar nessa vida. Romper comportamentos herdados, evoluir em sua espécie...

Mas a idéia de destino como o que se destina a você em sua vida é também enriquecedora se ao menos esse caminho seja traçado de acordo com nossas atitudes. Acredito que CADA UM TEM O QUE MERECE. Acredito na RESPONSABILIDADE ÚNICA.

O Destino existe, e se destina a ser apenas o final do caminho que traçamos por nossa vida.

Pode ser?

beijos e asseguro aqui minha vaga de frequentador assíduo desse site instigante.

bjs

Unknown disse...

Refleti e cheguei a uma conclusão de que temos o direito de escolher, mas na maioria das vezes nas situações mais complicadas e dificeis de se tomar uma decisão tomamos a errada por alguma coisa que nos influencia e passamos a pensar será que era o destino...
Errada talvez naquela hora ou momento, mas lá na frente não achamos tão errada assim...
Alguma coisa que não é somente a razão mas a intuição nos leva para onde devemos ir e prosseguir.....
Talvez para o nosso destino...

Querida um tanto quanto confuso mas me fez pensar
Beijos
Karina

Monica Guinle disse...

Karina, tenho um pensamento bem gestaltico em relação a isso: acredito que sempre tomamos a melhor decisão possível frente ao que nos é apresentado.Melhor no sentido que era o que estava disponível em termos de recursos internos e de repertório emocional. Acredito muito na saúde de cada um, por isso, mesmo que mais tarde possamos avaliar como uma opção ruim, acredito que naquele momento nossa saude escolheu o que era melhor.
A idéia é fazer pensar mesmo, talvez juntos, trocando pensamentos e impressões todos nós saimos com algo a mais.
Adoro essa troca, é o verdadeiro objetivo deste blog, essa é a melhor parte!
bjs e obrigado a todos pela participação.

Unknown disse...

Putz, muito maneiro fazer a colocação do mito de édipo!Texto super inteligente!
Amei!
Mas eu sempre achei que todas as escolhas que nós fazemos e mesmo o dar-se já era predestinado!
Talvez por isso eu acredite que não vale a pena ficar fugindo.
No mais concordo com absolutamente tudo! hehehe!
Pra variar, né!

Anônimo disse...

Acabei de rever Em busca da Felicidade, com o Will Smith...vcs viram? Bem, ali estah um exemplo vivo do que constitui um pequeno pedaço disto que chamamos de destino...Felicidade!

Monica, obrigado por nos fazer refletir sobre este tema...beijo, Figura

Anônimo disse...

To esperando a próxima reflexão!!!!!!
Até amanhã!!!! :)))
Bjsssssssssss

Monica Guinle disse...

Figura, esse filme pra mim é um exemplo de reziliência, (acho q é com z) Esse cara acreditou muito nele mesmo, ele tinha a escolha de virar vítima, por que foi muito mal tratado pela vida, mas escolheu ser feliz, escolheu vencer todos os obstáulos que vinham ao seu encontro. O que não mata fortalece né?
Esse filme foi visceral pra mim, em alguns momentos foi quase insuportável. Bjs E obrigado plea participação.

Anônimo disse...

posso viajar?
me parece que destino teria um carater mais religioso, uma vez que dependeria de uma consciencia maior pra ser concebido, enquanto a escolha me parece mais cientifica/existencialista pois torna a nossa existencia deterministica (voce eh a soma das suas escolhas).
acredito porem que existe um movimento ciclico entre ciencia e religiao e cada vez mais nos aproximamos de uma epoca em que os dois serao um so novamente.
Este tema tem tudo a ver com isso se voce pensar no que o existencialismo propoe inicialmente, com a "morte de Deus", e com as atuais descobertas da ciencia (fisica quantica) e ate mesmo de filosofias como o budismo que atraves do treino da mente nos colocam na condicao de "criadores" da nossa propria realidade. Donde concluo que somos nossos proprios deuses, logo com as nossas escolhas criamos sim um destino pra nos. Destino e escolha seriam a mesma coisa, a "consciencia maior" seria a nossa propria...

bom, isso sem entrar no merito da questao do tempo ser uma criacao humana. Este fato levaria a teoria da lanterna... mas isso ja eh uma outra viagem muito "pior"

beijos!

Tam disse...

mas uma vez parabensssss vc é 10
adorei o texto...
mas depois de ler e reler, porque esta cada dia mais dificil, esta ficando complexo, dificil para os meus poucos neuronhios, huhuahua...
apesar de amar o texto não concordo plenamente com vc, acho que é porquer não acredito em destino, acredito que tenha sim uma coisa pre- deteminada mas as escolha que faz é vc...
beijuss grande cheios de saudades...
TÂM