quinta-feira, 10 de julho de 2008

Traição: "Culpa" é de quem?

Como começar a discutir o tema da traição? Como estabelecer uma linha de pensamento, quando estamos tratando de uma das questões mais delicadas no que diz respeito a relacionamentos afetivos?

Acho melhor começar falando do ponto de vista do “contrato” que se estabelece entre dois amantes.

Traição é uma violação (da ordem do dito ou não-dito) da confiança de que aquele ser maravilhoso e encantador, com quem nos relacionamos também nos acha maravilhoso e encantador, e não achará mais ninguém!

Trair é retirar da pessoa que foi traída o direito de acreditar que só ela é vista, desejada, amada e capaz de satisfazer plenamente aquele a quem dedica seu afeto.

Mas será que isso é verdade? Será que as pessoas só traem quando não amam mais ou quando amam mais a uma nova pessoa, a quem conheceram? Será que só se trai quando o parceiro não é mais capaz de satisfazer às nossas necessidades?

Ou será que se trai quando não há mais diálogo?

Tenho observado, ao longo dos anos, em minha experiência clínica lidando com mulheres, homens e casais adultos (muitos que chegam até mim exatamente por causa de questões na área da sexualidade) que as ilusões que descrevi acima realmente povoam o imaginário popular. Isso me deixa muito triste, porque o principal conceito que fundamenta tais crenças é a fé de que se pode (e deve) satisfazer plenamente a alguém. Ora se a base do movimento vital humano é o desejo constante de buscar sempre mais, seja do que for, é virtualmente impossível que alguém seja plenamente satisfeito, e isso é bom, porque nos leva a novas buscas.

Sendo assim, estabelecendo que a satisfação plena não pode ocorrer, vejamos onde a traição (como busca de satisfação externa) ocorre: eu necessito de algo que não encontro em meu parceiro e vou buscar em outra pessoa.

Pensemos: se eu necessito de algo, algo que eu desejo que o outro me dê, qual seria meu primeiro passo? Buscar? Não! Pedir!
O primeiro passo para conseguir algo de que necessito é comunicar que necessito desse algo, não é?
Por outro lado, quando peço e não encontro... aí fica mesmo difícil, porque só me sobram duas alternativas: desistir de necessitar ou buscar em outro lugar.
E o que motiva a traição? Muitas vezes a motivação é a busca de “novas emoções sexuais”. E há mesmo quem concorde que isso seja muito bom. Mas há um outro ponto de vista nisso: essa forma de traição atesta que não há espaço no relacionamento atual para novas emoções. Pode ser que esteja mesmo faltando criatividade, mas nesse caso, não é nada que uma boa conversa, franca e apimentada, não possa resolver.
Outra razão para trair é estar precisando de validação ou valorização de alguém, valorização esta que seu parceiro não tem suprido. “Ué!? Mas isso não é baixa auto-estima?” você deve estar se perguntando. Sim! E a questão da baixa auto-estima envolve dois problemas: 1) Você mesmo não está se dando o valor que precisa e merece; 2) Se esse parceiro não é capaz de valorizar você (claro, se você já o comunicou disso), você deveria saber o que fazer...

Há ainda outros tipos de motivação para a traição, tais como pressão de amigos, curiosidade, falta de coragem para terminar o relacionamento, tédio, rotina... e todos eles requerem uma solução muito simples: uma boa e longa avaliação com você mesmo se este relacionamento é aquilo que você quer; rever se há amor; verificar sua disponibilidade para discutir suas questões e investir na sua relação e muita, mas muita paciência e perseverança para melhorar a qualidade do seu relacionamento, porque o amor exige investimento e requer que arregacemos nossas mangas e trabalhemos por aquilo que desejamos.

Porque o amor é um bichinho de estimação que dá um trabalhão... Mas mesmo assim todos nós o queremos, não é?

Então, afinal, a “culpa” é de quem? Simples: de quem não quer se dar ao trabalho de se comunicar. Tanto de quem trai porque não disse do que estava precisando ou o que queria, quanto de quem ouviu o parceiro pedir, se expressar, e não se esforçou para melhorar a relação.

Dialogue. Dê uma oportunidade (ou muitas) para que o seu amor compreenda, acolha e ajude VOCÊ a suprir suas necessidades.

Porque na vida, se houver amor, não há nada que o diálogo (o milagroso diálogo) não possa transformar.

Um beijo com carinho para todos,

Renata Escarlate é uma psicóloga deliciosa, criativa, Sexóloga e Gestalt-terapeuta. Também é terapeuta de casais,Coordenadora de grupos terapêuticos e de estudo.

18 comentários:

Anônimo disse...

Muito interessante a sua perspectiva, mas nao creio que a traicao tenha por fundamento o aspecto sexual, somente.

Na minha experiencia profissional, pude verificar que um casal procura se separar apos duas situacoes fortes na vida deste UM:

1) Sim, o aspecto sexual se esvaziou, mas isto veio acompanhado de mudancas na vida de cada um, progressos ou regressoes, pessoais e profissionais e, com isto, uma incapacidade deles se encontrarem neste novo momento.

2) Filhos. Infelizmente ou felizmente, constatei que filho(a) eh para acabar com a relacao, pois eh exatamente neste momento que o choque cultural ocorre. Qdo digo cultural, falo acima de tudo daquela carga familiar que cada pessoa quer passar para o filho(a) no momento de educar, do choro do bebe a noite, enfim, diversos aspectos que somente a mae de cada um poderia explicar.

Estas razoes e outras, por obvio, podem levar as pessoas a buscarem outro conforto, uma aventura reprimida na adolescencia, um carinho ou uma otima transa...Alias, considero o termo "culpa" deveras pesado...prefiro "responsabilidade".

Eh natural que este assunto nao eh absoluto e tem amplas situacoes que podem levar as pessoas a procurarem outras...

Obrigado!

Monica, beijo, do Figura.

Unknown disse...

Salve Renata!!!
Grande texto!!! Explicação maravilhosa!
Mas eu sou suspeita pra falar, né!

Bem, mas vamos ao que interessa!

Pois é, tudo isso aí que você falou é perfeito, mas isso se as pessoas se dessem ao trabalho de entrar em contato consigo mesmas e descobrir o que lhe falta!
A impressão que eu tenho é que as pessoas nem se preocupam em querer saber o que há de errado com a relação! Aí vai direto pro parque de diversões alheio, cai na night sem ao menos se dar conta que tem uma questão pendente na vida conjugal!

Nada mais a declarar a não ser que sou fã da autora do texto e da proprietária do blog!!!
Amo-lhes!!!

Beijocas!

Anônimo disse...

Nossa Monica...esse texto diz tudo!
Sem comunicacao (e tesao, claro...) Nao ha solucao!

Beijos e mais beijos, Joana

Anônimo disse...

"Trair é retirar da pessoa que foi traída o direito de acreditar que só ela é vista, desejada, amada e capaz de satisfazer plenamente aquele a quem dedica seu afeto" Isso beteu forte em mim. Já fui traida e foi exatamente isso que eu senti. Como me livrar desse sentimento pois a única coisa que ainda me prende nessa relação é meu orgulho ferido. E a vontade de fazer com que ele ainda venha comer na minha mão, é a vontade de ser a única novamente. bjs Obrigado.

Bia disse...

Amei o texto!!!
Descobrir a nossa necessidade e dizer pro parceiro é mesmo a melhor solução!!!Quando se tem amor vale a pena falar quantas vezes necessário!!
Beijos!!

Anônimo disse...

Queridos, em primeiro lugar gostaria de dizer o que penso sobre cada comentário.

Ao Figura: sinto muito que vc pense assim. Em nenhum momento propus uma conotação meramente sexual à traição. Pelo contrário: busquei a todo momento explicar a traição do ponto de vista da comunicação e do encontro "consigo mesmo". Ah! Sobre o termo "culpa": quando discorremos sobre um tema muitas vezes nos utilizamos de termos fortes mesmo, para enfatizar pontos de vista, porém note-se que todas as vezes em que a palavra foi utilizada, ela estava entre aspas.

Às meninas em geral: que bom que vcs entenderam que comunicação é tudo! Dizer ao parceiro o que vc pensa e sente é fundamental, mas o grande truque é mesmo ESTAR PREPARADA PARA OUVIR, mesmo que o que ele venha a falar não seja "vc é o máximo". Acolher a necessidade do parceiro também é tudo!

Por fim, à anônima que comentou sobre como se sente com relação à traição que sofreu: aprendi uma coisa nessa vida muito importante e se não tivesse aprendido mais nada, já estaria muito satisfeita: uma pessoa que é capaz de me machucar muito não é capaz se saber valorizar o amor que eu tenho para oferecer.Quando a gente acha que pode ser tudo para alguém, flor, a gente acaba deixando de ser tudo para a gente mesma. Portanto, se é que eu posso te ar algum conselho, fique sempre em primeiro plano na sua vida, porque não adianta ser perfeita; sempre ai ter alguém que não vai se interessar pelo seu esforço porque está ocupado demais consigo mesmo, ok?

Depois eu volto, tá?

Muitos beijos e obragada por se comunicarem!!! É isso aí!!!

Renata Escarlate

Anônimo disse...

Amei !
Muito bom !!!
Diálogo é muito importante mesmo para qqr tipo de relação. Fiquei pensando nos parceiros tentarem buscar "algum tipo de falta "neles mesmo. Obviamente buscamos no outro, mas se buscássemos em nós mesmas... poderíamos nos enriquecer mais !!!!!!

Beijos!!!!!

Anônimo disse...

Quem sou eu para comentar sobre o artigo "psicóloga deliciosa" em questão? Afinal, ela não é só a tal psicóloga, mas também uma esposa deliciosa.
Mas bem, cá estou e acredito no que Renta diz. Principalmente porque o que se percebe é que, cada vez menos, as pessoas conseguem dizer para o seu parceiro, aquele que deve ser a pessoa que está ao nosso lado para os muitos momentos da nossa vida, o que efetivamente queremos e pretendemos dessa parceria.
Não digo isso só porque sou casado com quem deu esse tipo de opinião, mas simplesmente porque sou esse tipo de pessoa, que diz exatamente o que quer. E por isso mesmo, posso ver que as pessoas na verdade não estão tão dispostas a escutar os anseios da pessoa que diz amar.
Esse seria um importante aspecto a salientar: se por um lado, é importantíssimo dizer o que se quer, é importantíssimo ter a capacidade de ouvir, pois no mínimo estaríamos demonstrando não só compreensão e paciência, mas também o quanto estamos dispostos a enfrentar desafios por quem amamos.
Portanto, acredito que sendo capaz dessas pequenas coisas, a traição não é um mal que vai rondar a imaginação, nem povoar o reino da sua felicidade.

Beijos a todos.

Bruno Daesse.

Monica Guinle disse...

Como dizia Chacrinha, "velho guerreiro": quem não se comunica se estrumbica!
Querida que honra te ter aqui!
Que dobradinha boa essa heim? Você ressaltou a importância do falar antes de sair por aí procurando e o Bruno a importância do escutar, saber ouvir o outro de verdade. Adorei. Muito bacana.
Grande beijo e super obrigado.

Anônimo disse...

Renata, adorei!! Muito bom!!!! De você, só podia sair algo assim!

Traição ao meu ver é consequência de uma falta de respeito que já acontece dentro da relação. É a chamada "gota d`agua".

Se a pessoa está comprometida dentro da relação, pra que buscar algo fora?! O melhor é resolver, e não fugir e fingir que tudo está bem. Mas realmente dá trabalho, tem que realmente estar disposto falar o que incomoda e disposto também a ouvir, a ceder.

Discutir a relação é importante, sim. Mas não discutir de forma imatura, colocando a "culpa" no outro e tirando toda a responsabilidade.

Numa relação amorosa, há (ou deveria haver) 2 pessoas, e cada um tem seu 50% dentro desta relação. Para isto, deve haver também uma disposição de um diálogo interno, como a Renata falou muito bem. Ver se o amor ainda existe, porque senão não tem nem como pensar no resto. Avaliar o que realmente preciso, se o outro não puder dar, ver se isto é realmente essencial para mim e para relação ou se pode haver uma outra forma. Ver se o que a outra pessoa quer, é possível para eu proporcionar ou não. Enfim, diálogo com o outro e comigo mesmo é essencial!!!

Anônimo disse...

Cara as vezes atraição ocorre mesmo qd há dialogo, por que rola algo que o parceiro não pode dar, que é aquele friozinho na barriga. mas essa é uma traição boba que d´pa vontade e passa. adorei os textos, todos. Pontos de vista super diferentes, bem legal.
bjs

Anônimo disse...

Preciso dizer que concordo com esse figura. Acho que depois que temos filhos o casamento vira uma outra coisa, deixamos de ser homem e mulher e passamos a ser pai e mãe, isso muda muito o casal e abre janelas p fora. Acredito ser um assunto complicado por que aqui a culpa aumenta ainda mais. bjs

Anônimo disse...

Achei muito bom o texto!
Mas gostaria de compartilhar uma experiência minha.
Meu namorado me traiu dizendo que tinha medo de morrer. Na noite anterior teve uma crise de pânico e ficou transtornado. Nos encontramos para almoçar e conversamos muito sobre isso. Queria ligar pra saber como estava, mas achei melhor deixá-lo a vontade pra pensar. Aí que foi o meu erro! No mesmo dia já de caso pensado (qnd nos encontramos) ele me traiu com 2 mulheres diferentes, que inclusive eu conhecia.
Alguns dias depois quando nos encontramos, estava muito esquisito e quando apertei bastante ele confessou, mas disse que estava muito arrependido e que me amava muito! Sofremos muito, durante muito tempo. Mas decidi ficar com ele, pois amo muito!
Hoje vejo que realmente ele me ama muito e incondicionalmente, mas eu mudei! Me tornei uma pessoa muitas vezes insegura e ciumenta.
Como me tornar de novo uma pessoa segura e aceitar, sem restrições, o amor que ele me dá? Será que perdoei de verdade?

Bjs,
D.

Monica Guinle disse...

D, não compreendi a relação do panico com a traição. Como assim ele te traiu dizendo que estava com medo de morrer?
Aceitar a traição, não é perdoar, muito menos concordar. Se tem algo que posso te dizer dentro do pouco que compreendi é que quando alguem trai abre essa fenda na relação, vcs podem superar e recuperar a confiançã mas isso requer trabalho, e paciencia. Como disse no texto anterior para mim a traição é demanda de quem traiu e é essa parte do casal que está em cheque, é ele que precisa se questionar, saber o que estava buscando. Aí neste ponto concordo com a Renata, só a partir daí deve haver o diálogo, colocar na mesa o que cada um precisa e até onde o outro está disposto a ir para satisfazer tal demanda.
Espero ter contribuido, esse é um assunto delicado e muito vasto.
grande bj e boa sorte.

Anônimo disse...

Anonimo 3.0

Gostei do texto. Confesso que não leio bloggs, mas hoje... hoje é um dia pós traição e a culpa está me matando. Não concordo com pessoas que acreditam não ser possível a traição quando a relação está no auge, acho um pensamento muito simplista e estreito. Sempre haverá outras pessoas interessantes, de uma maneira diferente da do parceiro(a) e isso não signifca amá-lo(a) menos. Me sinto culpado por saber o quanto minha namorada sofreria se soubesse, e eu a amo! Já falamos desse assunto diversas vezes e sempre deixei claro que monogamia é um ESFORÇO que faço por amor, porém, lutar contra a própria natureza eternamente é impossível, assim como, é igualmente impossível não tê-la a meu lado. Sei que isso soa egoísta, e é! Assumo esta falha. Mas acho interessante dividir esses pensamentos e sentimentos para alertar as mulheres sobre pontos de vista masculinos assim como o meu.

Obrigado.

Monica Guinle disse...

Anonimo 3.0 obrigado pela participação. é sempre enriquecedor ter opiniões distintas aqui no blog.
Entendo totalmente seu pono de vista. acredito que a monogamia é a forma que encontramos pra lidar com apego mais do que qualquer outra coisa. Administrar amor x atração não é tarefa simples. Mas a culpa pos ato é a ressaca minima de quem transforma desejo em ação.

Anônimo disse...

Ótima a matéria e os comentários...Faz 3 meses descobri que meu marido me traiu. Comecei a ficar desconfiada pq. ele passou a me desprezar de uma hora p/ outra (depois que descobri, disse que era por culpa). Descobri de forma sórdida, li um e-mail que ele deve ter esquecido de apagar (de janeiro) em que eles torcavam juras de amor! Ele disse que era p/ conquista-la, que tb. mentiu p/ ela dizendo que era separado (o que constantei pq. falei com ela). O fato é que desde que minha filha nasceu, acabamos nos distanciando: eu por dar mta atenção à ela e ele por não ter paciência com criança! E deu no que deu! No início eu dizia que ele não aguentou ser pai! De me dividir com ela (e isso pq. ele mesmo me disse que tinha saudades de como eu era há 4 anos atrás minha filha vai fazer 4 mês que vem!) Coincidência? Não acredito! Tanto é verdade que agora ele fica com ela aos sábados (dia todo) e duas noites por semana (p/ eu ter um tempo p/ mim) coisas que ele nunca fez antes...
O fato é que temos mantido bom relacionamento, saimos para almoçar e jantar juntos, mas ele foi categórico de que agora não quer tentar salvar nosso casamento...estou sofrendo mto., sou extremamente ansiosa. Mas acho que minha magoa maior nem é a traição em si, pq. de uma forma ou de outra eu tb. não percebi que ele estava se sentindo "abandonado", mto embora ele não tenha me dito (e agora diz que a culpa maior que sente é por não ter tido atitude de falar isso p/ mim!), mas da dúvida que ele tem se me ama!

Anônimo disse...

Falar de traição quando ela não te afeta é fácil mas quando acontece na vida da gente ...Primeiro vc desmorona, tua vida fica sem sentido sem valor e vc procura uma resposta desesperada que te conforte... Há 2 meses estou vivendo assim,comecei a perceber uma mudança de comportamento e então descobri uma mensagem no celular do meu marido , diante de tal prova ele confessou que saiu algumas vezes com essa moça porque ser desejado por uma moça 20 anos mais nova mexeu demais com ele mas que ele já havia parado de sair com ela porque ele percebeu que havia feito uma grande burrada,que ele ´so tinha sentimentos por mim e que aquele caso só trouxe culpa para ele, não trouxe prazer, ele me pediu perdão e uma segunda change de provar que me ama. Gosto muito dele mas estou me sentindo humilhada. Estou fazendo terapia e estamos conversando muito para tentar salvar nosso relacionamento e descobrir se vale a pena ficar juntos e o diálogo está se mostrando uma ferramenta preciosa porque não usamos esta ferramenta antes...