terça-feira, 29 de julho de 2008

Coelho da Alice

É engraçado. Minha filha está de férias na escola e mal consigo sentar a bunda na cadeira pra escrever. A cabeça estava ficando entupida de idéias. Estava tão ansiosa para cessar essa demanda que agora sentada aqui não consigo conectar em mais nada além dessa sensação de pressa, e corre-corre que me assola em época de férias.
A vida girando, o tempo correndo e eu como um ramster naquela rodinha, correndo sem parar! Já é assim que vivo o dia a dia, mas nas férias dela isso ganha uma dimensão assustadora. A sensação é a de que não vou dar conta. Não conseguirei estar no consultório, fazer yoga, estar com minha filha, atender as necessidades da casa e estar cheirosa e carinhosa quando o marido chega, até por que chego depois dele. Só mesmo sendo a mulher maravilha e eu acho sinceramente que tô mais pra “Mulheres a beira de um ataque de nervos”.
Nessa época quero fazer programas legais e criativos com ela, e simplesmente não consigo tempo suficiente. É frustrante, mas infelizmente a vida não para por que minha filha está de férias!
Ontem, recebi um email de um amigo que andava sumido. Ele se desculpa dizendo que por estar de férias não consegue parar. É loucura mas é verdade. Quando tiramos férias, precisamos descansar quando elas terminam.

Férias deveriam ser um tempo pra descanso, mas quem tem filho sabe que isso simplesmente não existe. Férias com filhos é uma delícia, mas você acaba exausto. Férias escolares dos filhos enquanto você trabalha é praticamente um surto.
Eu mesma não consigo ficar quieta, preciso de 1 hora e meia de yoga pra aquietar a mente por mais ou menos 10 minutos. Agora por problemas na coluna, não consigo fazer yoga. Imagina então a quantas anda a “miscelânea plural” da minha cabeça? Meu marido diz que eu sou um paradoxo ambulante. Ele deve ter razão! Acho que vou colocar minha filha na yoga, talvez assim ela me ajude a ficar mais zen.

Estou aos poucos aprendendo a não ficar culpada quando não faço absolutamente nada. Por enquanto me sinto péssima se o dia não é produtivo, pois se não estou trabalhando, preciso fazer algo prazeroso como ir a praia, andar de bicicleta, ou juntar os amigos para um risoto na minha casa. Coisas simples, mas que me dão a sensação de que fiz algo bacana, gostoso. Às vezes quero apenas sentar, ler o jornal e simplesmente contemplar a vida. Só consigo se estiver chovendo. Um bom domingo chuvoso me deixa descansada e leve, pois consigo me permitir ficar de papo pro ar, sem fazer absolutamente nada.

A imagem que me vem cabeça é a do coelho da Alice, correndo com aquele relógio enorme no bolso e falando: ai, ai , meu Deus, é tarde, é tarde, é tarde! Nossa, essa sou eu! Eu sou o próprio coelho da Alice, sempre correndo, sempre atrasada. Agora mesmo vou trocar rápido de roupa e ir correndo pro consultório, tenho paciente 5 da tarde e ainda estou aqui no computador.
Socorro!!!!

sábado, 26 de julho de 2008

A mandala Astrológica e o ciclo da vida

Continuando “Momento Pipoca” aqui no blog, Vamos falar um pouquinho de Astrologia.

Astrologia vai muito além da leitura de signos e zoodiaco de jornal. É uma forma de ver o mundo, e pode ser extremamente revelador se você tiver a cabeça aberta.
Há um ciclo de vida que se inicia em Áries e termina em Peixes. Podemos dividir A Mandala Astrológica em 3 ciclos de vida: o primeiro de Áries a câncer marca a primeira infância, O segundo de Leão a Escorpião, marca a adolescência, e por fim, o último ciclo: da vida adulta a velhice que vai de sagitário a Peixes. Todos os ciclos começam num signo de fogo, passam para um de terra, ar e acabam em água.

Áries é o primeiro signo do zoodíaco. Ele marca o nascimento. O ser humano abrindo os olhos pela primeira vez. É o primeiro signo de fogo. É o nascimento do “EU”

Em seguida vem Touro, um signo de terra. A criança percebe que tem um corpo. Olha suas mãos, sente frio, fome e calor. Apreende o mundo através dos sentidos. Sente o cheiro de sua mãe, ouve sua voz, e vai simbolizando assim o universo a sua volta. É o nascimento do desejo.

Em gêmeos, um signo de ar, a criança começa a olhar em volta, percebe que existem outras pessoas além dela e de sua mãe. Percebe que se chorar alguém vem vê-la, cobri-la ou alimentá-la. Estabelece aqui a capacidade de se fazer ouvir. Nasce a comunicação,

Câncer, signo de água, fecha esse ciclo da primeira infância. Aqui a criança estabelece o sentido de vínculo. Ela sente fome, chora, é alimentada e com isso percebe que suas necessidades vão sendo atendidas. Amor e alimento estão juntos. Acredito que passamos o resto da vida tentando renovar essa sensação, essa união de amor e nutrição. Não é à toa quando bate uma mega ansiedade corremos para geladeira!

Um novo Ciclo se inicia, num signo de Fogo. Em Leão, o sentido de identidade se expande. Agora, sou EU em relação ao grupo. É o potencial criativo. A necessidade de autoafirmação. Aqui testamos nossas capacidades, saímos do egocentrismo infantil e experimentamos olhar em volta. Queremos competir, descobrir quem é o melhor!

Novamente um signo de terra sucede o de fogo. Nasce virgem, e com ela a necessidade de ser útil. Do que adianta ser criativo se não fizermos nada com isso. Aqui temos maior autonomia física e aprendemos a separar o joio do trigo. É o aprendizado da escolha: o que serve e o que não serve para meu corpo.

Nasce então, a vontade de compartilhar, de enxergar o outro, de incluí-lo, de trocar. Aprendemos isso em libra. Aqui se estabelece a relação Eu-outro.

Fechando este ciclo temos escorpião. O alimento experimentado em câncer aqui recebe nova conotação. É o ganho que tive em compartilhar. Escorpião marca a entrada na vida sexual, passo natural iniciado pelo contato com o outro, vivido no signo anterior, libra. É o aprendizado da Transformação.

Sagitário, o último signo de fogo inicia o ciclo da idade adulta até a velhice. Aqui é o inicio da jornada para o mundo. Sagitário é a flecha, nossa necessidade de meta, de ideologia, de propósito. Nossa vontade de ir além, se aventurar, se jogar na vida. A vontade de crescer, de expandir os horizontes.

Aí vem capricórnio para concretizar as metas lançadas em sagitário. Enraíza, lapida, busca perfeição. É o aprendizado da autocrítica. Capricórnio é terra , aquele que materializa os sonhos. É o nosso Super-Ego. Aqui aprendemos as regras do mundo, do que é certo ou errado.

Bom, depois disso tudo,vem Aquário, o humanista! Aqui aprendemos a pensar, refletir, filosofar. Como um signo de ar, temos o distanciamento intelectual necessário para pensar questões sociais, políticas e existenciais. As regras só são respeitadas se fizerem sentido, caso contrário nascerá um rebelde. Aqui aprendemos o que há de mais humano em nós. Aquário nós ensina os ideais da Revolução Francesa: Liberdade, igualdade e Fraternidade. Vemos o outro como irmão, é o aprendizado da liberdade.

Esse ciclo acaba em peixes, um signo de água. Nele temos o sentido da Fé e da completude. A sensação de que somos uma gota no meio do oceano. O contato direto com Deus, sem intermediários, sem religião, apenas Eu e Ele. Peixes é o que transcende, é o que nos prepara para morte, para a passagem. É o aprendizado da arte, da loucura, da fé, ou de qualquer caminho para o inconsciente.

Lógico que nem sempre completamos este ciclo de aprendizagem. Muitas vezes paramos em algum lugar do caminho. Não faz mal! Acredito que este é um conhecimento em espiral, podemos entrar nele por qualquer lado, não há certo ou errado, apenas um caminho espiralado. Se somos Touro, Aquário, ou Escorpião, não significa que estamos nesta etapa do caminho, muito pelo contrário, muitas vezes nosso signo solar é o mais difícil de ser apreendido. Sendo Libra, a relação Eu-outro, pode ser de fato o grande apredizado da minha vida.

Desejo à todos um boa jornada!

quarta-feira, 23 de julho de 2008

A Nomenclatura da Fauna Masculina

Após ter lido o texto do Pavão reconheci que sou um macho vaidoso. Gosto de comprar roupas, sapatos e perfumes e faço isso mensalmente. Pago uma boa R$ para cortar o cabelo em um desses salões caros de Ipanema. Sou daqueles que reparam em roupas e acessórios nas mulheres, opino criticamente (pro bem e pro mal) quando uma mulher me questiona sobre seu visual e sei perfeitamente quem são Marc Jacobs, Tom Ford, Vivianne Westwood, André Lima e Isabela Capeto, dentre outros.
Entretanto, passo longe de ser um metrosexual. Já li e escutei diversas vezes que um homem metrosexual é sinônimo de homem heterosexual vaidoso. Discordo veementemente. O próprio criador do termo metrosexual, o escritor inglês Mark Simpson diz que, metrossexual é simplesmente o homem vaidoso ao extremo. É o narcisista dos tempos modernos, que, graças às facilidades dos serviços existentes nas grandes cidades, pode dar-se ao luxo de se esmerar muito – além do habitual – nos cuidados com a aparência. É o homem hipernarcisista, não importando a sua orientação sexual. O metrosexual pode ser gay, bissexual ou heterossexual, mas isso é absolutamente desimportante, já que ele tem a si mesmo como seu objeto de amor.
Abram-se parênteses: o metrosexual é ou não é o próprio Pavão?
A metrosexualidade é um fenômeno que como tantos outros se manifesta na sociedade em constante evolução, é a “revolução” do homem das metrópoles, que se diz moderno e com amor-próprio. E bota amor próprio nisso!!!!!!
Se existe um lado positivo é que o surgimento da metrossexualidade rompeu os paradigmas oficiais de masculinidade estabelecidos. O homem heterossexual vem perdendo a vergonha de ser vaidoso, de cuidar da aparência. Entretanto, o lado negativo da coisa consubstanciado na exacerbação do egocentrismo não é saudável.
A masculinidade narcisista e egocêntrica tem origem numa característica típica de sociedades como a nossa: o hiperconsumismo. Os ídolos dos metrossexuais são, em geral, homens famosos por seu visual e seu estilo – muito mais do que por suas conquistas políticas, intelectuais, esportivas, artísticas, humanitárias etc...
O metrosexual adora comprar, poder usar bons produtos de joalharia e relojoaria, e o seu armário de casa de banho terá certamente bons produtos de cosmética, perfumaria e higiene pessoal masculina, incluindo cremes e revitalizantes para a pele. Um metrosexual preocupa-se com o seu físico e aparência, frequentando um health club com condições de higiene e acompanhamento de um personal trainer. Tem uma noção absoluta do poder da imagem que vende e adora que reparem nele – só nele!!!!!
É possível reconhecer um metrossexual pelas unhas bem cuidadas (por profissional é claro), pele saudável, corte de cabelo perfeito, roupa sempre impecável e, acredite, os mais extremistas chegam a usar até maquiagem, que pode incluir itens como lápis de olho, pó facial e máscara para cílios. Lembro de uma vez que uma famosa apresentadora de televisão confidenciou que um dos motivos do término de seu casamento com um famoso publicitário apresentador paulista e agora cantor foi ter entrado no banheiro de seu marido um dia e ter visto o sujeito se maquiando. Na boa, eu sinceramente custo a acreditar que uma mulher tenha tesão em ver seu homem em uma situação dessas.
De um modo geral, todos têm algum grau de vaidade. E ele pode ir do mais alto, o do pavão, metrossexual, ao quase zero, o do retrossexual, a versão moderna do homem das cavernas, um ser tosco se comparado a ultravaidosos como o craque inglês David Beckham e o nosso Roberto (favor não confundir com o Carlos). Praticamente a comparação entre um porco e um pavão. Analisando a fauna e suas sub espécies, ainda temos o power-seeker e neopatriarca, expressões características do homem no ambiente de trabalho e que ocupam os extremos da gangorra. O primeiro se realiza no sucesso profissional, sendo considerado uma sub espécie de metrosexual porque deseja o poder e usa a vaidade para auxiliá-los a conquistar as posições almejadas.
Já para o segundo nada é mais compensador do que curtir a família. Diante das exigências do mundo moderno, que rouba cada vez mais tempo das pessoas, essa disposição pode surpreender os desatentos. Mera coincidência com o Urso?
Mesmo não sendo casado e não tendo filhos, considero o tempo algo muito precioso e tenho a consciência plena de que uma hora a mais no escritório é uma hora a menos em casa.
No meio do caminho entre os retrosexuais e os metrosexuais é que me considero encaixado. Trata-se do infeliz nome, o übersexual. Em alemão, über significa super. Esse rótulo passou a identificar uma espécie que pode usar gel, perfume e protetor solar em dias chuvosos – mas é incapaz de procurar um podólogo –, lambe sua cria, compreende as mulheres e as respeita – só que faz questão de tomar cerveja com os amigos, sem abandonar as discussões sobre esporte.
Dentre os perfis, o übersexual se apresenta hoje como o tipo masculino que conseguiu conciliar moda, beleza e troca com sua parceira sem perder a virilidade, a autoconfiança e a personalidade assertiva, elementos constitutivos da identidade masculina. Alguém vislumbrou o Leão por aí?


Macho de Respeito

sábado, 19 de julho de 2008

O Pavão

Observar o reino animal é extremamente esclarecedor no que diz respeito a nossa fauna humana. Eu mesma adoro. Me delício em observar nosso zoológico humano. Cobras, Leões, macacos, avestruz, peruas, garças, nossa tem de tudo um pouco, é sensacional.
Que ninguém se ofenda! Sou amante do Reino animal assim como do vegetal. Eu mesmo sou uma mescla de inúmeros bichos, quiçá de plantas. Às vezes meu mau humor é tanto que chego a ter espinhos. Se tivesse que me descrever faria uma mix de urso, Leão e elefante. Adoro hibernar, viro bicho se alguém ferir quem eu amo, e tenho uma memória afetiva que é uma verdadeira desgraça.
Morro de inveja das vacas, que me passam uma tranqüilidade ímpar. Além de serem os únicos bichos do planeta cujo cocô tem um cheiro agradável!
Hoje, vou escrever sobre uma espécie pouco difundida: O Pavão. Tenho uma amiga que cisma em se apaixonar pelo tipo e não adianta argumentar contra, vocês logo vão entender porque:
Ele é o top de linha dos vaidosos. Não é o Leão, vaidoso, exibido, mas que cuida da cria.
O pavão é quase um solitário. A mulher ao seu lado é um mero acessório, que deve obviamente combinar com os 30 ternos armanis, pendurados no armário. Precisa ser meio barbie: loira, alta e magra, mas nunca mais atraente que ele.
Pavão é aquele que estufa o peito e vai de sunga branca sacudido as penas do Country ao Posto 9 se achando a última coca cola do deserto. É um cara que me dá vergonha passiva. Aquela que a gente sente pelo outro, sabe?
O figurino do pavão nunca passa despercebido, ele faz questão absoluta de chamar atenção, mesmo que seja pra mostrar que naquele dia ele tava low profile. Tudo é pensado, sempre.
É aquele cara que te deixa sozinha no ato. Se tiver um espelho no quarto pode acreditar que a imagem dele será sempre mais interessante que a sua, e na hora de fazer amor será ele com ele, na posição que ele ficar mais bonito, claro!
Não é um cara que dá pra usar a filosofia do flanelinha por que ele só tá fechado com ele mesmo, e quando chega num lugar gosta de fazer em grande estilo, por isso sempre tem meia dúzia de melhores amigas, peitudas e manteúdas, daquelas que dançam até o chão.
Minha amiga se morde de raiva e ciúme mas se mantém firme, sabe que ela é melhor que tudo aquilo.
É um cara extremamente apaixonado.“In Love” total consigo mesmo. Tem mulher que gosta de ficar na platéia, que curte ser invisível. Eu, pra falar a verdade nunca entendi direito isso. Gostar de uma pessoa com amor próprio é fundamental, mas quando seu amor próprio dá um golpe de estado e resolve governar tudo sozinho, vira uma ditadura narcisista onde não há espaço pra mais ninguém. É ele e o Ego dele. Todo o resto vira platéia.
Eu gosto da troca, sem isso não existe relação. Definitivamente, não tenho a menor paciência pra bajular, nessas horas meu lado espinhudo aparece e, viro uma “comigo ninguém pode”. Minha amiga ri, acha graça, vê beleza. Fica quase hipnotizada pelo pavão.
Não preciso nem dizer que homem assim não aparece em consultórios de terapia, esse tipo jamais pagará alguém para fazê-lo olhar pra dentro, afinal ele gasta uma mega energia para só olhar para fora. É obvio que um dia a fachada cai. Por que fica insustentável manter isso por longo tempo.
O Pavão chega em terapia de cauda quebrada, cansado, exaurido, nem parece mais um pavão. Sua demanda inicial é ver se a cauda tem conserto, ele tem pressa de voltar a ser pavão. Quanto mais rígida for sua carcaça, mais doloroso será o processo, mais aí, ele não será mais um pavão, será enfim um homem.
Um homem com coragem de se enxergar.

domingo, 13 de julho de 2008

Destino: Escolha ou Imposição?

Nunca acreditei muito em destino. Chamo de destino a idéia de que existe um plano reservado para cada um de nós, como se não houvesse escapatória, como se estivéssemos fadados a seguir por um caminho específico. Essa é uma idéia que me assusta, pois extingue o nosso livre arbítrio. Gosto de pensar que sempre temos escolhas, por mais difíceis que sejam. E comungo com a idéia existencialista que somos sempre frutos dessas escolhas.
Mas há uma coisa que se repete no meu consultório e que dividirei com vocês agora. Muitas vezes eu ouço o medo das pessoas e percebo que é justamente para lá que elas se encaminham. Parece contraditório que justamente o que mais temo é o que procuro. Afinal, teoricamente deveríamos evitar aquilo que tememos, certo? Nem sempre.
A primeira vez que pensei sobre isso confesso que achei absurdo. Como caminhar justamente na direção daquilo que evito? Era óbvio para mim que caminhava justo na direção contrária. Mais tarde descobri que o buraco era um pouco mais embaixo.

A mitologia Grega está repleta de histórias onde heróis fogem de seus destinos mas, acabam concretizando-os ali adiante.
O mito de Édipo ilustra muito bem isso. Laio, rei de Tebas, vai ao Oráculo para saber o que o destino lhe reserva. Lá escuta que seu filho o matará e se casará com sua esposa. Horrorizado com tal destino, ele abandona a criança no alto de uma montanha.
Alguns camponeses o encontram e entregam-no ao Rei de Corinto.
Édipo é criado então, fora de Tebas, sua terra natal, acreditando que os Reis de Corinto são seus verdadeiros pais. Quando jovem, ouve rumores sobre sua origem e vai procurar o Oráculo que lhe profetiza a mesma história que apavorou seu pai biológico. Édipo, atormentado foge, Achando que está fugindo de seu destino, na verdade está indo de encontro a ele. Chegando a Tebas briga com um desconhecido e mata-o. Aqui se concretiza a primeira etapa do oráculo. Este desconhecido era seu pai.
Sem saber vai passo a passo a caminho de tudo que mais temia. Apaixona-se por Jocasta sem saber que era sua mãe e se casam. Ele realiza seu “destino” acreditando que fugia dele.

Às vezes penso que damos o nome de destino a um padrão inconsciente que levamos conosco e que vamos sem perceber aplicando a nossa vida. Quando nos damos conta lá está ele, pronto, feito, um enredo completo no qual atuamos.
Acredito que é em terapia que podemos tomar consciência desse enredo e não ser “enredado” por ele. Ali é o espaço onde podemos recontar a nossa história, tomar consciência de padrões que repetimos sem perceber, tomar as rédeas de nossa vida, fazer escolhas, transformar o “destino” naquilo que escolhemos para viver.
Um paciente que sempre fantasiava a respeito de seu trabalho e temia ser mandado embora, quando finalmente aconteceu sentiu-se aliviado. Finalmente se viu deparado com seu temor e soube vencê-lo. Percebeu que sobreviveu e se reergueu com aquilo que ele fantasiava ser o pior dos mundos.
Uma paciente temia ficar igual a sua mãe, rabugenta e controladora. Se casou com um sujeito bem “bicho solto” pra não ter que ficar controlando o “cara”, dizia ela. Qual foi sua surpresa quando tiveram seu primeiro filho? Ela se sentiu presa em casa e passou a azucrinar o marido. Tornou-se ranzinza, mal humorada e finalmente um dia em sessão percebeu transtornada que se transformara naquilo que mais temia: sua mãe.
Foi só a partir deste momento que realmente começou a traçar uma nova direção e um novo padrão de funcionamento emocional. Efeitos colaterais da consciência! É neste momento que ocorre a “magia da terapia”: se passo a perceber como estou funcionando, saio do automático. Aquele comportamento que antes era engatilhado imediatamente sem um pingo de consciência, agora pode até se repetir, mas eu saberei exatamente o que estou fazendo e o que estou reproduzindo. Aos poucos ou até imediatamente passo a fazer escolhas diferentes e vou testando um novo formato de comportamento. É o tal do “dar-se conta”, depois dele nada permanece igual!
O medo tão debatido semana passada acabou por provocar este novo tema: A Traição.Teremos novamente 3 textos. Eu escrevi sobre traidores e traídos, convidei a psicóloga e sexologa Renata Escarlate para dar seu ponto de vista, e ainda teremos o Macho de Respeito, desenvolvendo o tema do corno.Sejam bem vindos e não deixem de postar seus comentários.

quinta-feira, 10 de julho de 2008

Traição: "Culpa" é de quem?

Como começar a discutir o tema da traição? Como estabelecer uma linha de pensamento, quando estamos tratando de uma das questões mais delicadas no que diz respeito a relacionamentos afetivos?

Acho melhor começar falando do ponto de vista do “contrato” que se estabelece entre dois amantes.

Traição é uma violação (da ordem do dito ou não-dito) da confiança de que aquele ser maravilhoso e encantador, com quem nos relacionamos também nos acha maravilhoso e encantador, e não achará mais ninguém!

Trair é retirar da pessoa que foi traída o direito de acreditar que só ela é vista, desejada, amada e capaz de satisfazer plenamente aquele a quem dedica seu afeto.

Mas será que isso é verdade? Será que as pessoas só traem quando não amam mais ou quando amam mais a uma nova pessoa, a quem conheceram? Será que só se trai quando o parceiro não é mais capaz de satisfazer às nossas necessidades?

Ou será que se trai quando não há mais diálogo?

Tenho observado, ao longo dos anos, em minha experiência clínica lidando com mulheres, homens e casais adultos (muitos que chegam até mim exatamente por causa de questões na área da sexualidade) que as ilusões que descrevi acima realmente povoam o imaginário popular. Isso me deixa muito triste, porque o principal conceito que fundamenta tais crenças é a fé de que se pode (e deve) satisfazer plenamente a alguém. Ora se a base do movimento vital humano é o desejo constante de buscar sempre mais, seja do que for, é virtualmente impossível que alguém seja plenamente satisfeito, e isso é bom, porque nos leva a novas buscas.

Sendo assim, estabelecendo que a satisfação plena não pode ocorrer, vejamos onde a traição (como busca de satisfação externa) ocorre: eu necessito de algo que não encontro em meu parceiro e vou buscar em outra pessoa.

Pensemos: se eu necessito de algo, algo que eu desejo que o outro me dê, qual seria meu primeiro passo? Buscar? Não! Pedir!
O primeiro passo para conseguir algo de que necessito é comunicar que necessito desse algo, não é?
Por outro lado, quando peço e não encontro... aí fica mesmo difícil, porque só me sobram duas alternativas: desistir de necessitar ou buscar em outro lugar.
E o que motiva a traição? Muitas vezes a motivação é a busca de “novas emoções sexuais”. E há mesmo quem concorde que isso seja muito bom. Mas há um outro ponto de vista nisso: essa forma de traição atesta que não há espaço no relacionamento atual para novas emoções. Pode ser que esteja mesmo faltando criatividade, mas nesse caso, não é nada que uma boa conversa, franca e apimentada, não possa resolver.
Outra razão para trair é estar precisando de validação ou valorização de alguém, valorização esta que seu parceiro não tem suprido. “Ué!? Mas isso não é baixa auto-estima?” você deve estar se perguntando. Sim! E a questão da baixa auto-estima envolve dois problemas: 1) Você mesmo não está se dando o valor que precisa e merece; 2) Se esse parceiro não é capaz de valorizar você (claro, se você já o comunicou disso), você deveria saber o que fazer...

Há ainda outros tipos de motivação para a traição, tais como pressão de amigos, curiosidade, falta de coragem para terminar o relacionamento, tédio, rotina... e todos eles requerem uma solução muito simples: uma boa e longa avaliação com você mesmo se este relacionamento é aquilo que você quer; rever se há amor; verificar sua disponibilidade para discutir suas questões e investir na sua relação e muita, mas muita paciência e perseverança para melhorar a qualidade do seu relacionamento, porque o amor exige investimento e requer que arregacemos nossas mangas e trabalhemos por aquilo que desejamos.

Porque o amor é um bichinho de estimação que dá um trabalhão... Mas mesmo assim todos nós o queremos, não é?

Então, afinal, a “culpa” é de quem? Simples: de quem não quer se dar ao trabalho de se comunicar. Tanto de quem trai porque não disse do que estava precisando ou o que queria, quanto de quem ouviu o parceiro pedir, se expressar, e não se esforçou para melhorar a relação.

Dialogue. Dê uma oportunidade (ou muitas) para que o seu amor compreenda, acolha e ajude VOCÊ a suprir suas necessidades.

Porque na vida, se houver amor, não há nada que o diálogo (o milagroso diálogo) não possa transformar.

Um beijo com carinho para todos,

Renata Escarlate é uma psicóloga deliciosa, criativa, Sexóloga e Gestalt-terapeuta. Também é terapeuta de casais,Coordenadora de grupos terapêuticos e de estudo.

terça-feira, 8 de julho de 2008

O Corno Manso, O Corno Traído e o Comborço

Chifre é que nem consórcio: mais dia menos dia vc será contemplado. Dessa máxima popular surgiu a idéia de prestar um serviço de utilidade pública e tentar apaziguar a quase sempre tormentosa relação vivida entre o corno manso, o corno traído e o comborço.
Primeiro, vamos as definições para uma melhor compreensão do tema: o corno manso é aquele que descobre por acaso e por conta própria. Sabe que é corno e se mantém numa fingida ignorância e quando alguém tenta alertá-lo ele disfarça como se o assunto não fosse com ele. Essa espécie é mais evoluída, conhece bem todos seus direitos, deveres e características básicas e é feliz assim, só perdendo a compostura quando seu comborço não sabe conviver em sociedade.
Já o corno traído é aquele inconformado, sempre “vítima” da situação, aquele que parte imediatamente para a separação, sai de casa ou a expulsa, briga e chega até mesmo às vias de fato.
Sobre o comborço, vou pedir licença ao ilustre escritor Mario Prata que sintetizou muito bem a sua definição: “comborço significa o amante (ou o atual marido) da ex-mulher da gente. É o grau de parentesco entre o corno e o outro”. Ou seja, para todo corno corresponde um comborço. E a todo comborço corresponde um corno. Portanto, se a sua ex-mulher ou ex-namorada tiver um outro marido ou namorado, ele é o seu comborço. E você amigo, me desculpe, é o corno dele.
Partindo desses conceitos, entendo que o corno traído não deveria se preocupar tanto. Primeiro, porque a nossa memória é curta e passada a comoção da descoberta do par de chifres ninguém mais dará importância a esse fato. Segundo, porque o corno traído de hoje pode ser o comborço de amanhã. Portanto, o corno traído não deve se irritar com o seu comborço, porque, mais dia, menos dia, ele (comborço) será também um corno (que poderá ser manso ou traído) e terá, conseqüentemente, o seu comborço correspondente.
O corno traído sempre odeia o seu comborço. E vice-versa. É um erro crasso. Explica-se: deveria ser ensinado na escola respeitar e tratar sempre bem o nosso comborço, principalmente se você tiver filhos com a sua ex-mulher. Afinal, quem estará cuidando a maior parte do tempo dos seus filhos é o comborço e imagina ele fazendo a cabeça do seu primogênito para torcer para um time rival ao seu.
E não é que tem comborço que inacreditavelmente odeia o seu corno! Hello comborços, não se deve odiar os respectivos cornos, e, muito menos, cair na pasmaceira comum do comborço ter mais ciúme do corno que o corno do comborço. Na verdade, o comborço tem medo que a qualquer momento o corno passe a ser o comborço dele mesmo. Ou seja, os dois seriam, aí, parentescamente falando, co-comborços.
Acredito que paira uma grande injustiça sobre o corno manso. Geralmente são pessoas de temperamento dócil, solícitas e gentis e nunca são egoístas. A única coisa que estraga a felicidade da categoria é o tal do comborço. Esse indivíduo desconhece todas as regras que ditam a boa convivência social e acha que pode zombar o corno simplesmente por este pertencer a tão nobre espécie. Nobre pela singeleza da generosidade, o corno divide sua mulher e ainda se sujeita humildemente à chacota e ao escárnio. Uma mansidão bíblica! Porém, não convém apregoar os acessórios do corno estando ele presente, pois ao ser publicamente apontado o corno pode se tornar feroz - lembrando que ferocidade é diferente de agressividade.

Já o maior dos equívocos cometido pelo comborço é que ele, por não se ver na pele do corno manso, literalmente, acaba por cuspir no prato em que come. Esquece que o corno manso é seu parceiro e sócio e como tal deveria ser tratado com respeito e consideração. Fosse mais inteligente o comborço poderia concluir que o corno somente é corno porque tem uma mulher boa, no mínimo, interessante. E mais! O comborço inteligente elogia e enaltece o corno manso, a fim de que a mulher do corno dispense a seu marido a mesma e dedicada atenção que dispensa ao comborço, de forma que a proteção e atenção ao corno aumenta as chances de permanecer mais tempo como insuspeito comborço.

Reconheço que é um tanto difícil sustentar a defesa para que não chacotem o corno manso. A começar pelo simples fato de que todo corno manso é corno por prazer. O corno manso que diz se manter no triângulo societário amoroso apenas por amor à sua mulher mente descaradamente. Na verdade, o corno se julga incapaz de conquistar uma outra fonte de prazer tão generosa e abundante quanto à fonte atual (aqui, eu considero que a mulher que faz do corno um corno, assim o faz por ser uma fonte inesgotável de prazer) e, sentindo-se incapaz de explorar totalmente essa fonte, abre espaço para a exploração em parceria com o comborço. Ah, a sabedoria popular!! Quem não ouviu aquela frase “prefiro comer filet mignon acompanhado do que m... sozinho" - todo corno manso pensa assim.
Penso que o comborço é última análise um covarde e um ingrato! O comborço só se mantém no cargo por medo de assumir compromisso com a mulher que o encanta. Teme inversão de papel; assumir relacionamento e futuramente se imaginar a dividir sua abundância. A conclusão deveria ser clara e o comborço - que preza sua condição - não deveria menosprezar nem ridicularizar o corno, seu parceiro no usufruto de prazeres.
O comborço esperto não alardeia sua condição, fica na miúda, só obtendo prazer. Aliás, todos os envolvidos deveriam ficar cada um na sua. E quando um trio, em comum acordo, permite alarde da sociedade “anônima” geralmente acontece a sublimação do corno. Uma tragédia! Pois apesar de serem mutuamente necessários, tradicionalmente, o corno e seu comborço não devem se bicar. No máximo é permitido conviverem no mesmo circulo social. Convivência que é sempre por mérito do corno, que é sempre mais lúcido, por adotar medidas de segurança. Se deixasse por conta do comborço seria um caos. Veja bem, é sempre o corno quem liga pra casa avisando que vai chegar mais cedo. É o corno quem bate forte o portão, quem chega limpando os pés com estardalhaço, quem se atrapalha com a chave da porta, quem faz festa com o cãozinho antes de entrar em casa... Pode apostar, corno manso de primeira categoria nunca tem cachorro grande, daqueles que mordem, pois em preservação do comborço só se permite a posse de cãozinho que late. Chyu-aua pra baixo..
Ironia, justamente por todos esses cuidados em proteger e preservar o comborço, o pobre do corno manso é tratado com escárnio e desrespeito pelo seu protegido. Uma total falta de consideração, já que o correto seria o corno ser muito respeitado. Se não pela instituição que ele representa, pela mansidão e classe com que age.

Macho de respeito é propriedade de humanopossivel@blogspot.com.br Todos os direitos reservados. Não é a CEO do blog e é macho e espada de verdade, solteiro, namorando, tem 34 anos e é advogado no Rio de Janeiro.

sábado, 5 de julho de 2008

Traídos e Traidores

Quando a traição é descoberta numa relação a 2, de duas uma: ou o parceiro traído não perdoa e a relação se rompe, ou há uma injeção de libido e a relação se fortalece.
Aprendi isso com meus pacientes, traídos e traidores, por que eu mesmo pertenço à primeira categoria, não tenho a divina capacidade de perdoar. Mas já vi muitas vezes relações mornas recobrarem o tesão após uma traição. É como se a traição fizesse o homem e mulher se sentirem desejados novamente. Ver aquele que traiu como objeto de desejo alheio por mais que doa, restabelece o tesão. Isso acontece e é difícil de admitir, até mesmo para si, mas já ouvi inúmeros depoimentos de que o sexo entre o casal melhora.
Ninguém explorou melhor este tema do que Nelson Rodrigues. Tem um conto em especial chamado Casal de 3 que é maravilhoso. Nele o casal vive há anos um casamento morno, até que um dia, o marido leva um amigo para almoçar. O amigo vira amante da mulher e o casamento esquenta novamente. O amante vira aquele que mantém o casamento aquecido. O marido é o típico corno manso, faz vista grossa, até por que está se beneficiando do chifre. “A vida Como ela é”.
Acredito que quem ama poupa o outro e quando trai, faz bem feito. Não expõe o parceiro ao papel de corno, até porque a traição,acredito eu, é uma questão de quem trai e não de quem é traído. Pode até acontecer de ser um sintoma da relação, mas não acredito que a traição só ocorra em relacionamentos falidos. E se a necessidade parte de quem trai, então que este arque com as conseqüências, incluindo a culpa. Mas há sempre aqueles que não conseguem administrar a culpa e vão buscar absolvição no ser traído. Aí é sacanagem né? Investigue internamente, descubra o que está procurando, vá fazer terapia, mas poupe seu parceiro desse sofrimento. Até por que a imaginação é mais cruel do que a realidade. Fará o traído imaginar cenas do ser amado se enroscando ao corpo alheio ou lançando aquele “olhar ternura” tão conhecido entre os 2.

Eu gosto muito daquele ditado que diz: “o que os olhos não vêem o coração não sente” Quando ainda há amor, mesmo que pouco, mesmo que fraternal, o outro deve ser poupado. Se foi capaz de trair, que faça entre 4 paredes, pois pior do que ser corno é ser corno público. Não expor seu companheiro é o mínimo de respeito que se pode ter.
Não condeno, nem julgo, mas acho injusto esse acordo de liberdade pra mim, prisão pra você. Se a relação suportar a “entrega partilhada”, ou se os envolvidos não curtem a relação monogâmica, há um acordo entre as partes e beijar outras bocas, então, não consta como traição. Mas, se ao contrário, há um acordo de segurar a onda, e só dividir fluidos corporais entre os dois, aí o buraco é mais em baixo.

Só há traição quando há amor, caso contrário, trair o que?
Há aqueles que amam e traem, os que não sabem se ainda amam e se colocam à prova para descobrir, há ainda os que traem por medo de amar demais e os que morrem de medo do abandono ou da solidão e traem para ter sempre uma carta na manga. Caso seu amor titular lhe dê um pé na bunda, já tem outro no banco reserva. Há os que precisam testar seu poder de conquista e fazem traições corriqueiras, e há o tipo mais doloroso de traição, quando seu parceiro/a se apaixona por outra pessoa. Essa é uma traição que dilacera.

Há uma relação triangular que se estabelece com a traição. Não dá pra esquecer que praticamente aprendemos a amar triangulando com pai e mãe. Este é o nosso triangulo afetivo primordial. Pode ser que a traição reedite essa situação, colocando o sujeito no lugar do preterido, do culpado ou do disputado. Bom, mas isso também pode ser maluquice da cabeça de uma terapeuta... Mas essa já é uma outra história.....

terça-feira, 1 de julho de 2008

Os 2 maiores Medos do Homem

Confesso que tive certo receio de escrever sobre isso. Primeiro, porque escrever após dois textos lindos, abrangentes, profundos e que ainda por cima se entrelaçam gera uma expectativa nas pessoas para um grand finale que vou desde já avisando que não será atingido. Segundo, porque nenhum homem se sente muito à vontade para discutir sobre esses dois assuntos privadamente, quanto mais falar abertamente nesse espaço democrático de idéias. Entretanto, abrirei a caixa preta masculina e farei alguns comentários sobre os dois maiores medos dos homens.
Posso atestar que os dois maiores medos dos homens são: broxar e ser corno. Pode dar uma risadinha e achar que estou sendo frívolo, mas acredite, não existe medo maior no mundo para nós. É claro que nos preocupamos com nossos filhos, mulheres, parentes, empregos, inflação, futebol, mas, MEDO mesmo, esses dois são os maiores.
No dicionário, broxar é descrito como perder, ocasional ou definitivamente, a potência sexual, e também pode ser empregado com o significado de perder o entusiasmo, desanimar. Para nós, homens, broxar está diretamente relacionado à impossibilidade de colocar em prática o maior símbolo da força masculina: a penetração.
O homem que broxa é ferido na sua masculinidade pela diminuição ou perda da capacidade de ereção. E ele tem que enfrentar pessoalmente esta realidade: a concretude de um possível e assustador estado de coma ou até morte de seu estandarte, representante do seu poderoso falo. O falo que manda e desmanda: em casa, no trabalho, no campo de futebol. O medo da broxada, impossível de se esconder, persegue cada homem desde que idealiza a primeira relação sexual genital. Pois o homem pode passar a ter o seu pênis, o poderoso suplente de seu falo, apenas como uma broxa na mão, a broxa mole de um pintor passando tinta na parede branca!
As desculpas apresentadas são várias: se a mulher é baranga, o cara broxa. Se é aquela gostosa que ele sempre sonhou em comer, fica nervoso e broxa. Se é a esposa de anos, não tem mais tesão, broxa. Se pular a cerca, bate o peso na consciência e na hora H, broxa. Se bebeu muito, broxa. Se bebeu pouco, fica tímido, broxa. Se é um velho broxa, broxa. Se a calcinha for bege e sem costura, broxa. Se ainda assim não se enquadrou nas opções anteriores quem te derruba é a camisinha.
Por outro lado, alguém já viu bicho broxar? Já ouviu falar em cavalo garanhão com disfunção erétil ou cachorro meia-bomba? Bicho não broxa. E se o que nos diferencia deles é o fato de sermos racionais, é razoável supor que o ser humano broxa com razão, por causa da razão. Em outras palavras: penso, logo broxo.
E por isso não se pode ficar indiferente que na maior parte das vezes, o problema é nosso e não tem nada haver com a mulher que é somente cúmplice da perda de uma batalha. Eu que já passei por isso procuro não fazer tempestade em copo d’água, apenas, avalio as circunstâncias em que ela se deu. Da parte feminina, a colaboração fundamental fica a cargo da paciência e da renovação constante da autoconfiança do parceiro. A nossa situação de fragilização quando convivemos com a impotência ainda que esporádica pode criar novas visões para o relacionamento, afinal de contas, sexo é para ser feito no mínimo a dois.

E o medo de ser corno? Acredito que antes de tudo é uma questão cultural. Este comportamento existe também em animais. A poligamia é comum no reino animal, e nesse caso é mais comum o macho ser polígamo do que a fêmea. A origem disso é que o homem quer ter a certeza de que ele é o verdadeiro pai dos seus filhos, e não quer criar filho dos outros. Fora isso existe a exigência social de que todo homem seja capaz de agradar sua mulher sexualmente. Então, se o homem é traído, supõe-se em primeira mão que ele foi incapaz de satisfazê-la sexualmente, o que nem sempre é verdade.
A traição da mulher abala valores essenciais à masculinidade. O desempenho sexual e até mesmo financeiro e a atuação do homem ficam em xeque. Aquilo que nos faz sentirmos homens é repentinamente solapado. A traição não fere apenas o orgulho de macho, mas faz com que na maioria das vezes nos sintamos fracassados. Nessa avalanche de sentimentos, o amante ou o cúmplice não é visto só como rival, mas transforma-se em alguém que não conseguimos ser. O homem traído tende a se comparar com o outro para ver quem é melhor, e nessa medida de forças entra até o tamanho do pênis, símbolo de potência. Uma vez colocado o par de chifres, há de se fazer uma distinção entre o corno manso e o corno traído. O sentimento do corno traído foi sintetizado acima. Na minha concepção o corno autêntico é manso e suave. O indivíduo que se descobre representante dessa categoria e parte para agressão, separação e chilique, deixa imediatamente de pertencer a ela. Isso porque se o sujeito toma atitude contrária a manutenção de sua condição, ele passa automaticamente para a categoria de simples traído; Por outro lado, o homem que desconhece pertencer a categoria dos cornos, não é. O verdadeiro corno manso sabe e se mantém numa fingida ignorância e quando alguém tenta alertá-lo ele disfarça como se o assunto não fosse com ele. Curioso é que tanto o traído como o corno manso têm a mesma fonte de estraga prazeres e por motivos distintos: o sujeito comborço. Mas esse é um outro assunto...

Macho de Respeito